Minhas Paixonites

Não faço a mínima idéia de por que estou aqui na minha cozinha às três horas da madrugada querendo escrever sobre as paixões de minha infância e adolescência. Nem tenho a mínima vontade de me questionar esse por que. Não sou de questionar-me.

Minha paixão mais antiga, dos primórdios de minha infância, foi uma Natasha. Um meigo anjinho de cabelos loiros, semi-encaracolados. Ou seria melhor dizer que ela era uma diabinha? Que posso falar dela? Tinha uns oito anos quando a conhecia. Nem lembro o sobrenome. As vagas lembranças que tenho são e as descrevo aqui em seqüência das que julgo ser as mais antigas.

Primeira: Eu vermelho como um tomate de vergonha numa festa de aniversário dela. Vermelho, pois, quando chega na hora do famoso “Com Quem Será?”, justamente o meu nome que entrou no trecho musical: “Vai depender se Felipe vai querer!”. Na verdade eu já suspeitava desde o começo da festa que meu nome seria cantado. Não que desde pequeno eu tivesse uma ótima intuição, mas sim por que era muito óbvio. Até para um pirralho de oito anos.

Segunda: Eu, com uma espada de plástico dos Thundercats na mão, e ela, com um cabo de vassoura (ou pedaço de madeira qualquer), ambos brincando de He-Man e She-Há.

Terceira: Alguns poucos anos depois de minha família ter se mudado para outro bairro - o que nos separou, a mãe dela fez uma visita a nossa nova casa e Natasha veio junto. Enquanto minha mãe fazia sala para a mãe dela, fomos brincar em meu quarto. Ela sugeriu uma brincadeira:

- Vamos brincar de casinha da safadeza?

- Como é isso? – Perguntei curioso.

- É como brincar de casinha, mas a gente brinca sem roupa…

Não minto. Juro que ela disse isso. Eu devia ter já dez/onze anos na época, ela tinha um ano a mais que eu, se não me engano. Neguei à brincadeira. Desde muito novo que sou tímido, e quando criança era tímido ao extremo. Natasha insistia com a brincadeira nova procurando instigar minha curiosidade, dizendo que seria divertido. Depois tentou até reconstituir (talvez tentar forjar) lembranças em minha mente dizendo que: “Nós sempre brincávamos disso…”.

Ainda hoje me pergunto se já tinha brincado daquela infame “casinha da safadeza” com ela. No final das contas não brincamos de nada naquele dia. Também ficava me perguntando, algumas raras vezes, se esse relacionamento bobo e infantil poderia me levar para algum futuro melhor que este que tenho hoje. Duvido muito.

Lembro que alguns anos atrás eu a vi novamente. Nem sei por que, mas ela veio visitar-me. Possivelmente tinha saudades daquele romancezinho tolo. Ela tinha crescido demais, estava com aproximados 1,75m. Quase um colosso perto de meus míseros 1,69m. Natasha não tinha crescido apenas para cima, mas também para frente, traz e lados. Sim! Bunda, busto e banha! Os famosos três bês!

Depois de Natasha, minha mente dá um belo salto para meus onze/doze anos. O primeiro nome que me vêm na cabeça é o de Ana Paula. Foi uma desgraça.... Resumindo bastante, me apaixonei a ponto de escrever o nome dela em meus cadernos. Ridículo.

Desnecessário dizer que alguém viu um dos cadernos com o nome dela, justo quando todos estavam na sala. A notícia correu rapidamente no pequeno local para os ouvidos de Paula. Ela disse: “Credo! Aquele nojento, feio e fedido do Felipe? Nem que pagassem!”; sim, fedido! Dane-se! Ela tinha bigode mesmo!

Foi uma época de minha vida em que eu sofria da famosa “Síndrome do Cascão”. Até hoje o Cascão é meu preferido na Turma da Mônica. Como eu disse, foi uma fase difícil, mais ainda para quem ficava perto de mim…

Essa foi minha primeira decepção “amorosa” que talvez tenha colaborado para meu trauma de relacionamentos. Claro que não é exatamente um trauma – palavra forte demais. Prefiro dizer que é um tipo de “trava mental”.

Depois de Paula veio Mariana, depois Bruna, depois Michelle, Laila, Lola, outra Mariana… Por assim vai. Talvez tenha errado a ordem. Quem se importa? Todas foram decepções similares às de Paula. Muitos nomes passaram até chegar ao maldito vê. Não quero mencionar esse nome que me causa certa repugnância, mas é um dos três vês que surgiram em minha vida.

Essa miserável vê sozinha teve a graça de fornecer-me minha mais desgraçada “trava mental”. Odeio conhecer pessoas novas. Tenho medo de me relacionar com elas e acabar me ferindo novamente. Acontece quase sempre.

Depois dessa vê resolvi me precaver e comecei a prestar atenção nos gestos das pessoas, no que eles representam, no que seus olhos querem dizer, na mensagem oculta por baixo de suas próprias palavras. Rapidamente aprendi a manipular as pessoas, é mais fácil do que parece. Também aprendi que isso é errado.

Com o tempo comecei a achar que minhas paixonites terminariam. Estava errado, apesar delas terem diminuído demasiadamente. Principalmente depois que cheguei próximo do que é o amor. Ele me veio em três formas, um ême e dois ésses.

Minha ême é confusa, porém pensa na mesma freqüência que eu, somos como irmãos, talvez mais. Minha primeira ésse é uma praguinha inintendível que aguça minha curiosidade por ela, necessito entendê-la, mais que isso, difícil explicar. Por fim, minha segunda ésse é divina, me compreende quase perfeitamente, de uma forma mágica, da mesma forma que eu a compreendo, é como uma filha para mim. Amos as três de modos diferentes, uma de modo fraternal e intenso, outra numa louca confusão inconstante e a última com um carinho inimaginável. Não cito aqui seus nomes por puro sigilo – talvez por pura vergonha.

E as paixonites? No final das contas descobri que essas coisas em geral são vazias e impuras. Geradas por carência ou desejo extremo. Não valem à pena. Nunca valeram, mas é bom quando se quer manipular alguém de vez em quando.