AL DI LÀ 

         Relações de mulheres mais velhas com homens mais jovens sempre causaram mais narizes torcidos na sociedade ocidental do que o oposto. Sou fruto disso e não sei se assim explico o meu primeiro caso mal resolvido.        Trago da adolescência uma frustração que me deixou uma marca funda, curada, claro, mas igual a algumas espinhas que eu tive está lá, hoje um sulco tatuado, irremovível para não ser esquecido.        Havia coisas intransponíveis entre ela e eu que eu não compreendia e muito menos aceitava.       Pouco me importava se ela fosse mais velha.       Também não estava nem aí para as adequações que era obrigado a fazer periodicamente a fim de poder continuar disputando o foco daqueles olhos incríveis.      Sonhava com ela sonhos bons, inocentes, muito diferentes dos sonhos imundos e melados que eu costumava ter.          Não sei por que não deu certo.      Sempre achei que tínhamos tudo a ver.        Os olhos da Suzanne eram duas granadas de rúcula sem pino, tal o verde e tal a expressão quando queria dizer coisas graves.                                            Quando, porém, queriam ser doces cintilavam como sorvete de pistache. Talvez não fosse mais linda do que a Liz Taylor, nem mais “tudo” do que a Brigitte, muito menos se equiparava à Marilyn como cachorra.        Também não foi lá grande coisa como atriz e o máximo que chegou perto de um Oscar foi por ter sentado nas primeiras fileiras da Academia.           E esta pequena distância, da primeira fileira para a tela, era a que nos separava! Suzanne estreou na Broadway em 1961, pouco antes de nos conhecermos, substituindo Anne Brancroft como Annie em "O Milagre de Ann Sullivan".        Depois participou de "Pássaros", de Alfred Hitchcock, "Nevada Smith", de Henry Hathaway e do açucarado "Candelabro Italiano", de Delmer Daves, onde formamos um quadrangular romântico com o Troy Donnahue, o Rossano Brazzi, ela e eu.    Perdi, claro, e eu nunca descobri ao certo o que significa Al di lá!          Andou também fazendo algumas séries de TV menos votadas. Foi casada três vezes, a primeira com aquele nojento do Troy, logo depois do Candelabro.      Eu também casei três, não lembro se alguma com ela.        O certo é que fiz um filho em sua homenagem. O Sr. Igor Portela, assim como a Suzanne nasceram em 31 de janeiro.         Suzanne Pleshette morreu em 19/01/2008, aos 70 anos, de falência respiratória, em sua residência em Los Angeles. Ela fazia quimioterapia para tratar um câncer de pulmão desde 2006.       Esmeraldas subiram ao céu, agora quero ver o Criador pintar de verde duas estrelas. Morreu sem ter noticias minhas, a pobre!
 

Jair Portela