OS COMENTARISTAS

Há alguns anos, aprendi a conviver com comentários, quaisquer que sejam. Normalmente, quem comenta ofensivamente a meu respeito, na minha ausência, é o mesmo que me abraça quando chego. Muitas vezes, efusivamente. Pior são as pessoas que vêm dizer que fulano disse. Prefiro quem diz ao vivo, na presença, mesmo que eu não goste, mesmo que não esteja afirmando uma verdade absoluta. O que parece não ter serventia é descartável.

No esporte, na política, seja lá onde for, os comentaristas manifestam suas opiniões que, não raro, são determinantes na formação da opinião pública, dão asas a alguns, incentivos, sugestões de caminhos, cortam as asas de outros. Faz parte.

Aqui, podemos ser escritores e comentaristas, autores e críticos. A crítica pode ser analisada, pelo menos, sob dois aspectos, se tem fundamento ou não. Se não tem, verificada a improcedência, fica diminuído o crítico. Havendo procedência, corrige-se a falha e se fica melhor que antes dela.

Comentar é um ato delicado. Mais ainda quando o comentário fica em anexo a obra. Muito mais próximo que a crítica que lemos no jornal. Felizmente, no Recanto, os comentaristas são generosos. Quase sempre. Somos, a maioria, amadores, a crítica construtiva e o incentivo devem ser a tônica. Quem escreve pode avaliar como a obra é recebida. Este intercâmbio é interessante, entre outras coisas, para que o autor possa verificar como anda a qualidade da sua comunicação com o leitor. Não é raro o comentário abordar o tema sob uma ótica que o autor sequer havia pensado. Normal. Dois não vêem as coisas da mesma maneira e o que é ruim para um, pode ser bom para o outro.

Assim, como conseguimos identificar entre nós bons escritores, também podemos identificar bons comentaristas que, naturalmente, são atentos leitores.

Finalmente, comentar, qualquer que seja a situação, é coisa que se deve fazer com prudência. Ler um comentário mais ainda, em especial se veio algo que não se queria ler. Padrões, olhares, emoções, cada um tem os seus.

O padrão estético da Teresinha, digamos, não está na moda. Encontrou com a Mariazinha, balzaquiana também, amiga de longa data, não se viam havia tempo. Nem terminaram o abraço e os beijinhos, com os detalhes que faziam desde crianças ao se encontrarem, e a Teresinha começou os elogios:

- Ah! Como tu estás bem, cada vez melhor, cada vez mais linda, gorda...

E acrescentou:

... gorda, gorda!