MINHA NORA

‘Tadinha dela! Às vezes a vejo tão frágil! Como agora, por exemplo. Ela me telefona: que faço? Estou com dois doentes aqui em casa!

- Quem são os doentes?

- Seu filho e minha filha.

- Nossa, são duas situações tão diferentes, heim? Um grandão e a outra tão pequenininha! Bem, vamos ver: não vou lhe dar receita, não, viu? A essa hora da noite, me diga, o que você tem aí?

Ela me fala de umas gotas próprias para febre e dor e mais nada. Minha netinha tem febre um pouco alta e já vomitou um pouco. Agora está largadinha, como a gente dizia antigamente.

Meu filho está febril e com o intestino solto. O que aconselho são mesinhas que usei com meus filhos pequenos, água filtrada com maizena, limão e muito chá, de todo jeito, as tais gotinhas e repouso.

Para a netinha, banho morno, gotinhas e alimento leve. Nada de extraordinário. Vai ajudar é a fé e a certeza de que não está só. Estou aqui para o que der e vier e mais um outro filho que sempre está pronto para acudir numa emergência. Só isso. Amanhã veremos.

No dia seguinte me ligou do trabalho contando que os dois doentinhos já estavam bem melhor. Ela acredita que devem ter comido alguma coisa que fez mal.

À tarde, estive com ela também. O nosso trabalho é próximo um do outro e por vezes conseguimos almoçar juntas. Aproveitamos o resto da hora do almoço e fomos fazer algumas coisas. Durante o tempo que andamos pelas ruas, depressa, apressadas, debaixo daquele mormaço asfixiante, ela me falou de outro aperto que estava passando. A faculdade, as aulas de Português, o trabalho que o professor mandou que fizessem: uma crônica. Disse ela que na hora lembrou-se de mim - se fosse minha sogra ia se sair bem!

E porque pensou assim?

Acredito que seja porque gosto de escrever neste meu papel virtual os fatos corriqueiros da minha vida tão rica! Gosto de contar para esta telinha como vejo na mesmice da minha vida de trabalho, viagens diárias de ônibus, correrias, cansaços, tantas coisas belas, engraçadas, nostálgicas, bem humoradas, como consigo enxergar a meiguice dessa minha nora às vezes confusa, inexperiente, mas sempre tão sincera em sua simplicidade!

Dei-lhe algumas idéias, por entre os outros apressadinhos pelas ruas, talvez sirvam, não sei. Pode ser até que faça perfeitamente o contrário do que sugeri e se saia muito bem.

Voltamos a nos falar à noite. Quis saber mais de meu filho e neta. Quando nos despedimos pelo telefone, ela me disse: a senhora estava dormindo?

- Não, estava terminando de escrever uma crônica.

- Ai que humilhação! E eu tão apurada para fazer a minha! Mas vou conseguir. A senhora me deu uma ótima idéia! Escreve uma sobre meus apertos. Faz pra mim uma crônica: ...os apertos de uma nora! rsrsrs

- Está bem. Vou fazer e amanhã lhe passo um fax.

Pronto, aqui está ela.

Que nossos doentinhos passem uma noite melhor do que foi o dia, que ela se saia bem em seu ensaio como cronista, porque eu me sinto mais rica ainda do que já sou, com todas essas pessoas maravilhosas que foram chegando à minha vida.

Iguais a esta minha nora e seus apertos!

Rachel dos Santos Dias
Enviado por Rachel dos Santos Dias em 30/03/2008
Código do texto: T923206