Águas - Muncipalizar por que?

    Ainda não secaram os respingos – para não dizer chuvarada – do temporal de fim de verão que se abateu sobre a cidade de Barreiras na disputa entre Prefeitura e Embasa pelas águas do Rio de Ondas.

     Muito se falou e muito se propalou, certo ou errado, sobre este momentoso assunto. De um lado a Empresa Baiana de Saneamento – Embasa, ao se mostrar irredutível em sua posição de continuar a gerir os serviços de água e esgoto. E de outro lado a municipalidade, representada pelo atual gestor Saulo Pedrosa, na tentativa da retomada dos serviços, em mãos da Embasa desde 1972.

       A questão das águas municipais é um assunto que preocupa muito aqueles que têm certo conhecimento do assunto, e discernimento suficiente para saber o que está certo ou errado. Ou para saber quem está com a razão nesta disputa. Porém a preocupação vai muito além de uma simples briguinha paroquial entre duas entidades: a concedente e a concessionária, ou entre o proprietário e o arrendatário.

      A questão da água não é um simples abrir de torneira para ver se a que sai é límpida, inodora e saborosa ao trago. Mas é uma questão que diz muito, a respeito de um futuro não muito distante quando este elemento será objeto de disputas internacionais e provocadora de guerras entre potências. Quem observa a fartura de nossos rios, principalmente do de Ondas é bem capaz de estar sorrindo deste comentário e projetando: isto nunca vai acontecer aqui, pois nossos rios são perenes, alimentados por um dos maiores aqüíferos da Terra, o Aqüífero de Urucuia, um verdadeiro mar subterrâneo de água puríssima. Pois aí é que mora o perigo. É um potencial enorme de um líquido, que ainda na primeira metade deste Século XXI, vai ter mais valor que o petróleo. E será vendido como Commodities em bolsas de valores mundiais. Assim como são comercializados hoje o petróleo, a soja, milho e trigo e minerais estratégicos. Duvida?

      Já há países no mundo com grande possibilidade de ter que importar água para o consumo humano. China e índia, devido às superpopulações, são sérios candidatos e esse comércio. Até por que seus lençóis freáticos, onde se armazenam as águas das chuvas, já recuou em certos casos trinta metros chão a dentro. Alguns países árabes já importam água para beber.

      Daí então que, possuir um rio do Ondas - e outro e outros mais – que recebem o abono da água do Urucuia - e deixar de explorar este faturamento em benefício do município, será a mesma coisa que descobrir um poço de petróleo e ceder sua exploração a outrem sem obter nada em troca. 
     Pois é mais ou menos isto o que vem ocorrendo entre o nosso município e a Empresa Baiana de Saneamento. Ela está há 36 anos explorando os serviços sem pagar nada por isso. E por enquanto ela está só vendendo nossa água para nós mesmos. Imaginemos, numa projeção que não está muito longe da realidade, quando a Embasa começar a engarrafar – por ser puríssima e livre de metais pesados como certas águas de Europa – e exportar água para a China, Índia e ouros países sedentos pelo mundo a fora?

     Pense nisso quando ouvir certo tipo de propaganda enganosa, ou certas diatribes proferidas contra a autoridade municipal neste embate em defesa de um de nossos mais valiosos patrimônios, que são as águas de Barreiras.

 

 

 

Vinícius Lena
Enviado por Vinícius Lena em 31/03/2008
Reeditado em 31/03/2008
Código do texto: T925003