O trem chic da vida

Edson Gonçalves Ferreira

Sábado, fui a Belo Horizonte com meu amigo Juvenil. Lindo nome, não, aquele que é eterno jovem, mas não é o Dorian Gray. Comprei o filme “O mágico de Oz”, com a voz linda de Judy Garland interpretando “Over The Rainbow”. Fiquei arrepiadinho, arrepiadinho que nem quando ouço história de assombração. Só que ela canta divino, tão divino que, lá do Oriente, a Sônia Ortega ficou babando, babando.

Assim que coloquei o DVD, mergulhei, mergulhei no tufão da história. A Emília ralhou comigo: _Traidor da pátria, esqueceu-se de Lobato, não é? Nem te ligo e mergulhei no tufão mesmo. Não é que, naquela ventarola toda, encontrei-me com um novo amigo. Ele se chama Bernard Gontier! Chiquérrimo, não? Parle vous français? Merci beaucoup, non. Me arranha só Ingleis e Espanhol…

Falando nisso, minhas amigas Suzana Gripp e Dadinha Hurtado voltaram da Europa... Chegaram cheias de novidades. Eu também tenho minhas novidades, só que viajei mais na imaginação, porque minha grana é curta demais. Guimarães Rosa já dizia: “Para o pobre, todos os lugares são longe”. Assim, vou mesmo é pegar uma carona no tufão da Dorothy. Viajarei de uma forma ou de outra.

Vou mergulhar no tufão para fugir dos problemas. Tanto imposto, tantas taxas, quero a terra onde não há problema. Será que existe, me responde Maria Olímpia? Você que parece a fada madrinha da Dorothy, responde depressa, existe? Acho que não, porque, ontem, eu conversava com a sensata Fernanda Araújo e, até ela, meu Deus, falou que, nesse ponto, eu estava sonhando. Maria José Santos Guimarães também disse: _ Edson, você escreve sobre tanta coisa séria com uma doidice tão sadia! _ Uai, fui seu aluno! - respondi.

O filme, porém, é lindo, mas não é mais lindo que a minha vida -- e nem da sua vida - que tem a ternura da minha família, embora minha irmã Leo sempre me trata como se eu tivesse dez anos. A Marisa vive na igreja e o Wilton na dele, sempre sorrindo para a vida, enquanto o Hailton curte retratos históricos. A Dorothy acaba de me acenar ali, passando, agora, num pé-de-vento. Gritou: _ Edson, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão mandaram um abraço, viu?

Mandei que ela retribuísse o abraço, porque ela é danada, matou a bruxa do Leste e do Oeste. Eu quero matar as bruxas e os bruxos do Planalto que tiram o sossego da gente. É por isso que, às vezes, quero mergulhar no tufão, sumir do mapa, assim não me encontram para eu pagar o pato. Brasileiro só paga o pato e é pato. Tem tanto tempo que não como pato assado. Quem sabe você, Sunny Lóra, não me convida para comer um pato assado. Só não pode ser o Pato Donald, adoro ele.

Quando estive no reino de Oz, tive a oportunidade de me deliciar com o Espantalho que reclamava que não tinha cérebro. Respondi para ele que, no Planalto, no Brasil, lá, lá em cima, a maioria dos homens também não tem! E governam ou desgovernam o país. Ele me olhou espantado e, então, retruquei: _ Não sou bruxo, sou normal, aliás, um pouquinho normal, porque se eu fosse normal mesmo, ficaria doido!

Também conheci o Homem de Lata que reclamava que não tinha coração. Coitadinho – eu disse – e mesmo sem coração, você se lamenta. No Brasil, eles matam as criancinhas. Domingo, o Fantástico, mostrou uma escola que não tem teto, nem lar, nem comida para as crianças e o Homem está falando em qualidade total, escola para todos. _ Eu preciso de um tufão, eu preciso...

Aí, então, conheci o Leão que reclamava que não tinha coragem, mas que foi com Dorothy pela estrada amarela à procura do Mágico de Oz. Aqui, ó, nós precisamos ter mais coragem do que o leão para enfrentar o bicho papão das eleições. A Kathleen, atrevida, entrou na minha página e disse que eu precisava incluir o nome dela, porque ela também é uma espécie de fada na minha vida. Ela tem razão, não tem?

Quem sabe se a gente juntar o Henricabílio, o Juvenil, a Sunny Lora, a Claraluna, a Fernanda, a Zélia Nicolodi, a Sônia Ortega, a Maria Olímpia, a Kathleen, a Malubarni, o Bernard (que homem chic!), a Adélia Prado, a Cecília Guimarães, a Maria Luiza Reis, a Maria José e a Rute Gomes, consigamos entrar no tufão e direcioná-lo para o Planalto e, quando ele passar lá, talvez, na revoada das coisas, algumas coisas cheguem no lugar. Sim, porque eu quero acordar como o Dorothy, na cama de uma titia bem querida, para me dar carinho, para me dar colo, porque eu sou carente, tão carente!

Divinópolis, 31.03.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 31/03/2008
Reeditado em 01/04/2008
Código do texto: T925430
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