O "Ton" de Poções

Estava procurando uma empresa para fazer trabalhos de programação visual. Indicaram Supimpa, na Br-324, saída de Salvador. Tinha que plotar os veículos da empresa e fui ao encontro do cidadão, que é a “fera” dos mega cartazes expostos nas ruas de Salvador.

Chegando ao escritório dele, deparei com um cidadão sentado atrás de uma carteira, cabelos brancos e de olhar fixo. Apresentei-me. Ele, ao ouvir o meu sobrenome, pergunta:

- Você é irmão de Migueluccio? de Poções? Eu sou Ton, irmão de Nino. Certamente não se lembra de mim.

Lógico que eu me lembrei dele, de Nino e do tempo em que eles moraram em Poções, bem na Praça do Coreto. Wellington Antônio Vieira Pereira é o Ton, irmão de Clóvis Pereira Júnior, o Nino do Cartório, filhos do Sr. Clóvis Pereira.

Não tinha mais assunto de trabalho a não ser reatar aquela lembrança boa. Passamos a falar de coisas do passado, das pessoas e da saudade. São 25 anos que ele não vai a Poções, mas parece que as coisas estão vivas, com riquezas de detalhes na mente do amigo Ton. Para os mais antigos, mandou notícias de Nino – está morando em Niterói-RJ e bem de saúde. (*)

Como os serviços prestados por ele são de qualidade, já estamos na terceira remessa de plotagens dos veículos e faço questão de visitá-lo quando negociamos. Cada vez que nos falamos, revela lembranças e o grande desejo de retornar a Poções para “matar” a saudade. Indiquei as colunas e leu todas. Me disse: “a gente precisa sentar pra conversar.Você vai ter história pra encher o site”.

Outro dia, empolgado com as histórias que leu, me ligou para dizer que a publicação das colunas deveria ser menos espaçada e me contou um fato interessante que merece registro.

Aconteceu em 1957, antes de falecer o Sr. Clóvis Pereira. A energia elétrica ficou ligada direta por dois dias, devido ao grave estado de saúde que o pai atravessava. Era uma questão de extrema necessidade, pois somente nos casos de saúde, nas noites de festas, sentinelas e outros muito especiais a geração de energia se prolongava após as 22 horas.

Ton, estudante interno no colégio de Jequié, fora chamado às pressas em uma das crises do pai. O amigo Almir Rocha (Miga) foi apanha-lo em Jequié e, no caminho, após a meia noite, próximo a Poções, sentiu um alívio enorme ao perceber que a cidade estava às escuras. A escuridão era sinal de paz, naquela noite que pareceria ser difícil. Tinha a certeza que o pai estava vivo e pode confirmar chegando em casa.

Cinqüenta anos após, ainda é uma lembrança viva e marcou para sempre o cidadão poçoense. O fato chama atenção para os momentos que cada um guarda na memória e quanto é importante para enxergamos o tempo e as rápidas mudanças. Emocionado, disse que era um sinal de respeito e prestígio para um homem com relevante serviço prestado à cidade.

O outro lado bom foi a maneira despretensiosa de reencontrar o simpático contemporâneo, que me fez lembrar das épocas das brincadeiras no coreto, do velho Ginásio da praça, da lateral da Igrejinha, da escuridão das ruas e de uma turma mais velha, anterior a minha. Me deu saudades e vontade de rever tantos amigos sumidos.

Valeu Ton, que você possa reencontrar mais rápido os seus velhos amigos!

(*) TON INFORMOU QUE NINO FALECEU NO FINAL DE MARÇO/08.

luiz.sangiovanni@gmail.com

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 31/03/2008
Reeditado em 27/04/2008
Código do texto: T925547