CASINHA BRANCA

Onde estou me debatendo agora? Para onde foram aqueles tempos, quando sentia tudo belo, quando sonhava em viver onde estou vivendo agora?

Ah! Aquela casinha branca, de barro, na beira da estrada, seu telhado não era telhado, mas um amontoado de tabuinhas de coqueiro, pregadas umas sobre as outras, de modo a vedar do sol e das chuvas. Tudo era lindo! Tão lindo que sonhava com o futuro que deveria ter. Ah! ...Quando eu não mais apanhasse dos meus pais, pensava eu. Seria mais lindo ainda...!

Como era linda aquela mata, tão verde, em que eu vivia sonhos... Sonhava mais ainda, quando seguia por aquele caminho tão apertado, que ia pelo meio da mata, até dar num corregozinho em cuja margem continuava seguindo acompanhando a correnteza... Aquelas folhas, aqueles pedaços de pau, os galhos que boiavam e desciam com a gente... Tudo era sonho! E quando eu não precisasse andar segurando na mão de meu pai. Seria mais lindo ainda!

Continuávamos andando pela mata e aumentavam os encantos da natureza. Em certo ponto não podíamos acompanhar mais o córrego. Ele fugia por outro lugar deixando apenas um pequeno fio d’água que chegava até o engenho de meu avô...

Eu só via gente sorrindo, gente se movimentando, cavalos puxando uma enorme tora de madeira para movimentar o engenho... Para mim parecia mesmo um sonho. Intrigava-me ficar olhando os cavalos rodeando, sempre pelo mesmo lugar. No centro havia algumas pessoas enfiando canas nas moendas do engenho, hoje eu sei disso. Saiam do outro lado todas amassadas, enquanto escorria o caldo pela bica. Eu pensava, à época, que era água... Era sonho!

Como era lindo viver sonhando!

Agora vivo sonhando ainda, mas sonho com o passado, que não mais existe. Agora sou o que sonhava, mas parece tudo deserto. Já não consigo sonhar a vida tão bela, vivo num mundo que pouco conheço. Há tantas pessoas, mas não como eu sonhava... Deserto de vida!

Cadê aqueles sorrisos que eu achava lindo? Onde estão todas aquelas coisas que me encantavam? Estou sonhando, mas sonho com os sonhos que me fizeram tão feliz e me deram vontade de viver mais intensamente, quando em minha infância.

Estou decepcionado. Alem de não poder contar muito com os semelhantes, pois cada qual tem seus sonhos particulares, nem o passado existe...

A casinha branca de barro não mais existe... A mata não está inteira... Aquele caminho no meio da mata morreu, não lhe deram condições de persistir... O fio d’água também acabou e, finalmente, do engenho só restaram os escombros da velha fornalha e... Tudo eram sonhos...!