SE EU FOSSE VOCÊ...

Sei que você tem uma dessas para contar...

De repente, sem mais nem menos, a gente ouve alguém nos dizer: se eu fosse você, teria feito tudo diferente, coisa e tal. E não é raro o mesmo comentário partir da gente. Sabe, depois de algumas dezenas de anos, só recentemente resolvi pensar nessa expressão. Nas discussões familiares e entre amigos, isso rola muito...

Ontem, quando conversava com o Zé, aquele que sempre tem razão, a gente perdeu, ou ganhou, pelo menos uma hora discutindo esse assunto. Eu havia provocado ele nesse tema, para ver se dessa vez eu teria razão.

Qual que! Ele veio com um papo mais ou menos assim: às vezes a gente, estando fora do envolvimento emocional do outro, tem condições de perceber outras respostas para uma mesma questão. Então, faria sentido a expressão “se eu fosse você”.

Eu questionei que o emocional conta muito, em qualquer situação, pois cada um reage de forma diferente, por essa razão. Parecia que a razão estava comigo dessa vez, mas ele retrucou logo: a emoção é oposta à razão, portanto quanto mais envolvimento emocional, menos razão vai se ter.

Engraçado, que cada resposta dada, por mim ou pelo Zé, parecia mudar o placar fictício da disputa em causa.

Pensei um pouco e devolvi minha fala, como se estivéssemos num bate rebate, alegando que mesmo na necessidade de soluções mais racionais, fica impossível imaginar o ser humano totalmente razão. Parece que virei de novo o placar, pelo menos garantia empate, o que já era uma vitória, diante do Zé. Gente boa esse Zé! Para reforçar meu argumento continuei: o ser humano chora, o ser humano ri, o ser humano fica triste, o ser humano fica feliz... Fica preocupado. O ser humano se emociona, pôxa!

Senti-me o vencedor, à essa altura. Mas o cara é insistente e não entrega os pontos facilmente. Acredita que ele veio com mais uma bola pelo alto e quase passou? Num último lance, ele disse que eu precisava deixar de ser emotivo e agir mais com a razão, pois eu teria melhores resultados em todas as áreas da minha vida. Percebeu que o “se eu fosse você” estava presente de novo?

Fiquei quase na lona. Quase tomei esse gol nos minutos finais da prorrogação! Mas, procurando agir com a razão, dessa vez, fui para cima do zagueiro, dei um toque de leve e driblei mais um e fui para o gol com bola e tudo. Disse, para finalizar de vez com o assunto: Zé, se eu fosse você, eu não seria eu. Se você fosse eu, não seria você. Então, quem seriamos? Em qualquer situação parece que não seriamos ninguém! Melhor continuar como estamos. Dois é sempre mais que um, que é sempre mais que nada...! O gol valeu! E o Zé concordou que as coisas são melhores assim, cada qual na sua.

...a vitória foi dos dois, um típico empate, marmelada!