COMO PIPITA AGITOU, MESMO DEPOIS DE MORTO, A ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS

Antes de narrar o ocorrido, é importante esclarecer para leitores de outras plagas quem foi Pipita: um adolescente infrator que cometeu vários crimes considerados hediondos, em terras sergipanas, no primeiro semestre de 2008. Quem quiser saber detalhes, poderá consultar os sites de pesquisa na Internet.

Como Pipita adentrou o nobre recinto de uma academia de letras? Ora, pelo comentário do Imortal sergipano que nasceu no Rio de Janeiro, Bemvindo Salles de Campos Neto.

Pelo que entendi da reação de algumas pessoas, o visitante não foi muito bem recebido no citado local de cultura e as colocações do Acadêmico não foram bem interpretadas ou, talvez, não muito bem esclarecidas.

Como prestei bastante ouvidos ao que dizia o jornalista e Acadêmico, não estranhei que tenha levado o tema até à sessão do sodalício, mesmo porque é um assunto de interesse público e que foi amplamente divulgado e comentado pela mídia, envolvendo a opinião de psicólogos, sociólogos e antropólogos. Casos de criminosos famosos como, por exemplo, Jack, o Estripador, e outros, são motivos de debates mundiais, romances e filmes.

Um velho freqüentador da sala de reuniões da Academia Sergipana de Letras é Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, cangaceiro afamado e autor de muitos crimes, conforme se sabe pelas vias da oralidade e também pelas pesquisas e filmes sobre a figura nordestina cantada, versejada e proseada ao longo de muitos anos.

Estudiosos da vida e feitos de Lampião não aceitaram a sua comparação com aquele que, se vivesse à época do cangaceiro, provavelmente seria aprovado no “vestibular” para jagunço, tendo em vista a frieza e crueldade de seus crimes, além da capacidade de locomover-se e desaparecer no mato. Como se pode afirmar haver tanta diferença entre as duas personagens se só a primeira foi e continua exaustivamente estudada? Não se estaria tirando conclusões precipitadas?

O jornalista parece só ter exagerado quando afirmou que todos acham bonito quando pessoas, de outro nível social, cometem crimes. E citou, entre outros, Hittler e alguns ditadores latino-americanos. Além disto, realçou que filhos de poderosos são justificados e perdoados pela sociedade, o que é bem verdade. Lembram de Aída Cury? Lembram de um caso acontecido em Sergipe que ficou conhecido como o “crime da garrafa”, quando play-boys estupraram uma jovem e colocaram-lhe uma garrafa de refrigerante no ânus?

É óbvio, Bemvindo, que as mães de milhares de jovens norte-americanos mortos na guerra do Iraque, os parentes dos sacrificados no holocausto nazista e as famílias de guerrilheiros envolvidos por inflamados discursos de ditadores não acham um pingo de graça e nem vêem beleza no sangue que cobre de vergonha o planeta Terra.

Mas, Bemvindo, é muito claro que discutir seriamente, não só o caso Pipita, mas todo o contexto sócio-histórico e econômico-cultural que fabrica Pipitas e Cracolândias cabe em debates em qualquer ambiente envolvido com os problemas e os destinos de um país e do mundo. Será que em uma faculdade de Direito não seria recomendável? Em faculdades de Educação? Não posso apostar na minha memória, mas parece que foi Guimarães Rosa que nos aconselhou a educar as crianças para não ser necessário punir os homens. Não seria preciso, pois, mandá-lo para os quintos dos infernos, como o fez um jornal de Aracaju.