OI! O ZÉ TAÍ?

Certas coisas, entre milhares, não entendo. Oi deve ser uma corruptela de alô ou olá, não sei ao certo. Vulpino Argento, o demente, me diz que é assim que hoje em dia se saúda as pessoas. Já Dona Herda, irmã de Dona Hosta, ex-censoras, nascidas em Goiás, dizem que é apenas uma advertência e que a pronúncia certa é ói! Para mim, parece ser uma ameaça. Ói!!! Morei muitos anos em Goiás e sei. Em Goiânia, uma das cidades mais lindas, limpas e floridas que conheço e onde estão plantados queridos amigos. Um dia, ainda voltarei! Nem que seja para apenas sentir o aroma; das flores e dos amigos. Quem sabe?

Não lembro se Jeca Tatu dizia ói; faz tempo que li Urupês. Se não dizia, deveria ter dito. Mesmo sendo paulista.

Oi é uma palavrinha muito chata, sem graça, sem personalidade. Ninguém mais responde a um chamado como se fazia há pouco tempo; digo há pouco tempo para não parecer mais velho do que o velho que sou.

- João! - chamei o porteiro.

- Oi! - ele me respondeu.

Perguntei a Cecília, minha princesinha, se ela queria um copo de água de coco. Ela respondeu: oi? E nesse caso não foi uma saudação...foi uma pergunta que traduzo. Como? – foi o que ela disse distraída.

- Pedro! - chamei meu tutu.

- Oi! - respondeu-me com a precisão de quem entendeu o chamado.

Oi pode significar muitas outras coisas além de ser a marca de uma companhia de telefone. Alias , uma grande “sacada”; melhor do que vivo, claro e outras denominações. Oi é perfeito.

- Alô?

- Oi!

- O Zé taí?

São bilhões de “ois” por hora nos telefones “desçe pahíz, como nunca antes desçe goveno”. Nos “claros” e nos “vivos” também. Azar.

Eu tenho um querido amigo que resolveu de uns tempos para cá, sabe-se lá o porquê e a troco de quê, iniciar a conversa por e-mail, com um oi. Esquisito, estranho, impessoal. Não significa nada; nem é cerimonioso, porque não é pra ser, nem distante, porque já comemos juntos alguns quilos de sal. E de açúcar também; e bebemos litros de álcool, dada à impossibilidade de comê-los pois eram líquidos. Jânio Quadros adoraria ler isso porque ao ser perguntado, já Presidente do Brasil, se bebia, respondeu que sim, pois que era liquido o uísque que bebia; ao contrario de “outtro” que come com farinha a cachaça que bebe.

Oi, entretanto, é extremamente jovial. Como um aviso a dizer: nós falamos assim. Oi! Porém há exceções, que é para confirmar a existência da regra, pois não. Oíii! é uma tentativa de agradar ou de surpreender alguém sem causar nenhuma surpresa.

- Oííí, sou eu! É como avisar: “não se zangue comigo por eu ter aparecido assim em sua casa para jantar sem ter antes avisado”.

Crianças dizendo oi, como vejo na televisão, é a prova definitiva de que é possível dizer, ou escrever, com as mesmas letras, ou palavras, coisas absolutamente diferentes; com sentidos e significados variados. Cada uma delas traz um recado diferente. As interjeições são próprias para isso, existem para isso. Exprimem dor, alegria, medo, admiração e muitas outras “emoções súbitas da alma”, como afirmam os dicionaristas. Pode ser o uái mineiro - que goianos também reivindicam o uso e a autoria – assim como o báh gaúcho, o vige nordestino - que também pode soar vichi, ou vich, como o ave; que pode ser af, simplesmente. O báh gaúcho em Porto Alegre, soa bãh, bêh, béh, conforme a circunstância, o local e hora em que é usado. Assim também é o mas, essa conjunção adversativa, (báh!) que lá pelas bandas dos pampas tem o som do “a” bem fechado e soa mãs; porém, significa o que pretende.

Acho intrigante o hein. Que pode ser escrito assim ou assim: hem; e pode significar “como assim?”, “não é verdade!” ou simplesmente... “como?”

O oi, porém, não deixa de ser ridículo apenas porque é oi, mas, sobretudo porque é um oi. Como saudação, como forma de expressar alegria e admiração, no lugar de oba, vai entrando devagarzinho no idioma e se incorpora a língua falada e escrita. O oi pega, vicia, é feio. Mãs, ainda é melhor do que o uáu dos norte americanos.

É assim, porém, que se dá brilho e se mantém vivo um idioma. Enriquecido com novas palavras, novas expressões, transforma-se e não morre. Porém quando o uso delas vira modismo de uso indiscriminado torna-se insuportável. Como, por exemplo, “aí”, que repórteres de Tv e de Rádio e seus entrevistados jogadores de futebol usam e abusam.

- Esse jogo aí, foi muito disputado, ai, não foi?

- Foi difícil o jogo, aí.Nossa vitória, aí, vai pra torcida, ai, e pro meu filho que vem aí.

É isso aí!

CESAR CABRAL
Enviado por CESAR CABRAL em 04/04/2008
Reeditado em 06/04/2008
Código do texto: T931191
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