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Relembrando Fatos Estranhos

Nestes últimos três dias tenho mantido algumas longas conversas com uma vizinha de quem adquiri algumas centenas de livros usados. Uma senhora já idosa, muito culta, poliglota, bastante viajada e eleita no ano passado a “Mulher do Ano”. Enfim, uma pessoa de alto nível intelectual, muito agradável, com excelente memória, e ainda bem bonita em seus mais de oitenta anos.

A senhora é espírita e acredita firmemente na reencarnação, apesar de discordar de Allan Kardec em vários aspectos de sua doutrina. Mas não os especificou.

Como assunto puxa assunto, acabei relembrando certos fatos estranhos que aconteceram no decorrer de minha vida. Fatos que ficaram apenas na memória e que nunca me induziram a procurar saber mais a respeito do assunto. Assim sendo, não me tornei um espírita. Pelo menos não no sentido de estudar ou praticar. O pouco que conheço é de alguma leitura de Allan Kardec, Herculano Pires, e um ou outro autor lido ao acaso.

Um dos casos dos quais recordei mais tarde, a sós, foi o que me aconteceu em 1970, quando comprei uma das muitas Kombis que tive em minha vida. Um veículo praticamente obrigatório para quem, como eu, exercia a profissão de livreiro itinerante.

A perua que comprei, usada, estava muito bonita, muito bem conservada, com excelente mecânica e legítima cara de “único dono”. Apenas um detalhe irritava-me profundamente e todos os dias eu jurava que acabaria com ele: o ex-proprietário cismara de pintar de vermelho o miolinho das rodas. Um detalhe besta, uma coisinha à toa, mas que dava um ar bastante cafona ao bom veículo.

Alguns dias depois, ainda sem apagar as marquinhas vermelhas, outra coisa começou a incomodar-me. E esta era sim uma coisa muito séria: um menino surgia ao meu lado quando eu estava dirigindo. De repente, sem mais nem menos, um menino de uns três ou quatro anos surgia ao meu lado e, agarrado ao que chamamos de “p.q.p.” no painel, dava pulos em cima do banco até que eu virasse a cara e o encarasse. Assim que eu o encarava ele sumia.

O diabo da coisa é que a cada vez que ele surgia do nada eu levava um susto tão grande que instintivamente puxava o volante para o lado contrário, para a esquerda, e por pouco não cheguei a bater de frente com carros que vinham em sentido contrário.

Depois do terceiro ou quarto susto resolvi me desfazer da mal assombrada Kombi e a vendi com muita facilidade.

Um ou dois anos depois parei em uma padaria e lá estava ela estacionada do lado do meu carro. Ainda com as pinturinha vermelhas no centro das rodas. Antes que eu descesse o dono dela chegou e eu o interpelei:

- Está gostando da Kombi, amigo? Essa aí já foi minha.

- Está muito boa, meu chapa. Perfeita. Ficou com ela muito tempo?

- Pra falar a verdade, não. Fiquei só umas duas semanas e passei depressa pra frente. Vendi pro seu Aurélio, o rei das Kombis, lá na rua Santa Cruz.

- Foi dele que eu comprei. E porque o senhor vendeu logo?

- Não sei se o senhor vai acreditar nisso, mas é que volta e meia aparecia...

- Um garotinho pulando no banco da frente?

- Quer dizer que o senhor também viu a coisa?

- Ô se vi...Mas resolvi logo o assunto. Levei o carro até um amigo meu que entende dessas coisas e o carro me voltou “limpinho”. Nunca mais o tal capetinha voltou pra me atazanar as idéias.

Eu queria maiores detalhes, mas o homem parecia apressado e apenas lhe desejei que continuasse com boa sorte com a bela e bem conservada Kombi.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 05/04/2008
Reeditado em 05/04/2008
Código do texto: T932707
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