NÃO ERA EU...

Fiquei sabendo, ontem, que um casal de amigos se separou na semana passada porque não funcionou a desculpa “não era eu”. Disseram que a coisa foi feia mesmo! Resolvi conferir com o Alemão, o meu amigo, qual teria sido sua história.

O Alemão nunca foi boa bisca, a gente sempre soube, mas ele sempre escondia suas escapadelas da esposa usando a velha desculpa “não era eu”. Sempre que havia algum boato, coisa que a Analice, a esposa, viesse conferir, lá ia a desculpa "não era eu"! Ele dizia sempre, em tom de brincadeira para a gente, que negaria até a morte!

Ele começou a me contar que fazia tempo que a Analice estava desconfiada, mas ele negava sempre. Uma vez apareceu uma certa marca de batom em sua camisa e ela veio, louca, tirar satisfações, ao que ele disse que não era nada demais, pois deveria ter sido algum toque, não intencional, de alguma amiga dela nas despedidas normais, com beijinhos na face. Passou essa, mas com certa desconfiança. Ela sempre dizia que não tinha engolido muito a história do batom.

Outra ocasião, uma das amigas da Analice, sem rodeios, disse-lhe que havia visto o Alemão com uma garota no carro. Nova satisfação e nova negativa: não era eu. Passou mais essa! Parece que dessa vez ela ficou mais tranqüila, pois concordou que a amiga possa ter se enganado mesmo.

Passou um tempo e a Analice flagrou o marido com uma de suas amigas, a Clarinha, no carro mas, como confessou ter visto de longe, não teria tanta certeza. Foi a deixa para a desculpa funcionar. Ele disse “não era eu”, sempre dizia isso. Emendou ainda: a amiga deles estava atrasada para uma consulta e como estava passando por perto da sua bodega resolveu pedir-lhe carona, mas ele, com receio de alguém ver e fofocar, mandou seu funcionário levar a amiga até o local que ela precisasse. Isso foi o que ele disse para a Analice. Funcionou e ela até achou gentil da sua parte para com ela, a Analice e com suas amigas.

Nessa onda, viveram por mais de três anos. Toda semana tinha uma história nova, mas o Alemão sacava logo o “não era eu” e a Analice ficava meio conformada, mas desconfiada por tantas desculpas.

O que ocorreu na semana passada foi a gota dágua. A Analice, muito desconfiada que estava, resolveu conferir de perto a situação.

Quando o Alemão saiu no sábado à tarde, dizendo que iria falar com um cliente, ela logo ligou para o Márcio, amigo chegado (ela também tinha um), para que aguardasse uma ligação sua e fosse ao seu encontro em local a ser combinado. A Analice era meio pacata, caseira, a típica dona de casa, que sempre estava à espera do marido, com tudo arrumadinho e sempre cheirosa. Como ele iria imaginar algo contra? Nunca precisou dar explicações, pois ele nunca imaginaria, antes, nada parecido que viesse dela.

Combinado com o Márcio e, enquanto isso, seguia o marido. Logo viu que ele passou na casa da amiga Clarinha, sua melhor amiga de todas as horas. O marido e a amiga se encaminharam logo para um motel, ela foi atrás e se instalou no apartamento ao lado do deles. Ligou para o Márcio, o amante, e ele foi ao seu encontro no motel. Passaram duas horas no motel, e o marido não sabia que ela estava do lado.

Assim que ouviu barulho do marido saindo com a amiga, ela também foi para casa e chegou primeiro. Tomou um banho, passou a colônia preferida dele e, toda linda e cheirosa, ficou na espera de que o Alemão chegasse.

Ele chegou e com a maior cara de pau do mundo deu um beijo na Analice, disse que ela estava muito bonita e cheirosa. Ela perguntou, de bate pronto, desde quando ele saia com a Clarinha? Ele fez cara de espanto e disse como sempre que nunca sairia com alguém que não fosse sua esposa, pois a amava muito. Essas embromações que costumam funcionar nessas horas. Ela disse que desta vez não adiantava negar, pois alguém o havia visto entrando e saindo do motel com a Clarinha. Ele sem pestanejar disse “não era eu”. Disse que alguém havia se enganado. “Não era eu”, voltou a insistir para dar a conversa por encerrada como sempre.

A Analice, calmamente, disse: não adianta negar, desta vez, eu tenho certeza que você estava lá. Ele repetiu mais umas três ou quatro vezes não era eu. Cara de pau o Alemão! Mas desta vez ele se estrepou! Ela lhe disse que tinha certeza, pois ninguém havia lhe contado, ela havia visto.

Agora ele ficou mais embasbacado ainda. Como? Conseguiu gaguejar ele. Ela disse: eu estava lá. Fui atrás de você, vi quando passou na casa da Clarinha e foi até o motel. Fui atrás de você, me instalei no apartamento ao lado e chamei o Márcio, meu amigo de muito tempo. Como? Então você foi ao motel com o Márcio? Sua Puta, sem vergonha!!!

Pode isso? O Alemão desta vez não obteve sucesso com a desculpa “não era eu”, e ainda por cima teve que agüentar a sinceridade da esposa. Perdeu a compostura de vez. Depois disto, ele não agüentou e se separou da Analice...

Ele me confidenciou que gostaria de ter ouvido dela “não era eu”. O Alemão não conseguiu suportar a sinceridade da Analice. Seu casamento acabou, porque o “não era eu”, desta vez, não funcionou para ele e porque ela não usou o “não era eu”, como ele...