JOAO ALEXANDRE E PEDRO BANDEIRA

A dupla de cantadores de improviso mais famosos que pisou a Microrregião de Picos do Piauí, nos idos dos anos sessenta e setenta, foi, sem dúvida, João Alexandre e Pedro Bandeira. Nada de enganação, nada de versos previamente decorados, tudo era de improviso mesmos. Embora tivessem um bom repertório guardado no rico baú de sabedoria popular, para agradar a platéia que, vez por outra, pedia a repetição de algum martelo galopado cantado em outras oportunidades, afora isso, tudo era feito de repente. Daí a razão de serem também conhecidos como repentistas.

Havia em Santo Antônio um cidadão chamado João Cirilo de Sousa que tinha por hábito chamar os homens de corno, fossem casados ou não, mas isso não incomodava a ninguém, alguém jamais se zangou com as galhofas do João Cirilo. Sabendo que João Alexandre e Pedro Bandeira fariam uma apresentação na vizinha cidade de Monsenhor Hipólito, fretou um jipe, juntou uma turma de amigos e foi prá lá ouvir a cantoria. Era costume dos cantadores receberem além do cachê do contratante gorjetas dos ouvintes, em demonstração de agrado e reconhecimento à qualidade dos serviços do artista, para isso, colocavam um chapéu ou uma bacia bem na frente das cadeiras em que ficam sentados.. Encantado com a beleza dos versos que ouvia, João Cirilo puxou uma nota de dez cruzeiros, botou dentro da bacia e cochichou no ouvido de Pedro Bandeira: “Eu quero que faça um verso chamando todo mundo de corno”. Sem vacilar. O cantador afinou a viola em sinal ao parceiro, avisando-o de que estaria mudando o tema do repente, dedilhou as cordas do instrumento repetidas vezes buscando inspiração e abriu a goela:

“Aqui em Monsenhor Hipólito

Corno vai e corno vem

Corno quem mandou cantar

E Corno quem canta também

Se mandar correr os cornos

Aqui não fica ninguém.”

Briga, confusão, nada disso! Aquele improviso arrancou uma estrondosa gargalhada de todo povo presente. Ninguém se importava com as brincadeiras do Cirilo, até porque, ele mesmo havia sido chamado de corno nos versos do cantador.

...

Adalberto Antônio de Lima