"Como Fazer Inimigos e Irritar Pessoas" =Crônica do Cotidiano=

Estou pensando seriamente em escrever um livro com o título “Como Fazer Inimigos e Irritar Pessoas”.

Acredito piamente que tal título provocaria uma avalanche de vendas, e o que me leva a crer nisso é a relativa facilidade com que se encontra gente que gosta de ser chata, irritante, provocadora e agressiva. Felizmente, em contra partida, a grande maioria é de gente agradável e simpática. Pelo menos comigo tem sido sempre assim.

Estou tão acostumado a gostar das pessoas, de conviver com clientes, amigos, parentes, vizinhos e conhecidos, que os chatos, os grosseiros, os irritantes, tornam-se inesquecíveis. Sobressaem pela grossura, pelos maus modos, pela falta de educação. Os famigerados “sem noção”.

Costumo cumprimentar todas as pessoas que encontro no elevador do prédio onde moro e considero tal atitude uma norma básica de educação, mas de vez em quando topo com duas bestas que fazem questão de ignorar o cumprimento. Uma delas é uma mocinha muito bonita, que tem tanto de antipatia quanto tem de beleza; a outra é de um velho que dizem ser muito rico e que desde que ficou rico nunca mais enxergou ninguém.

Há poucos dias entrei no elevador, que estava quase lotado, e lá estavam os dois, a moça besta e o velho besta. Não perdi a chance:

- Boa tarde a todos. Até aos mal educados que não costumam responder...

Daquela vez os dois responderam. Mas só daquela vez, tenho certeza.

Uma vez eu estava já dentro do elevador, e ele já ia subindo, quando a mocinha besta veio correndo. Abri a porta e esperei por ela. Ela entrou sem “abanar o rabinho”, apertou o botão de seu andar e ficou se olhando no espelho. Minha irmã, que não perde oportunidade de fazer uma gozação, perguntou-me:

- Porque é que você segurou a porta para ela?

- Porque minha educação não depende da dela. Se dependesse, eu não teria nenhuma.

Nós dois rimos e a mocinha fez carinha de brava. É casca grossa, mas é bonita a danada.

Bem antes disso eu ia passando com minhas duas cadelas e com o cachorrinho de minha mãe pela calçada quando ouvi um barulho de rodinhas. Olhei para trás, vi uma garotinha de mão dada com o pai e puxando uma mochila. Puxei os bichos para um lado e esperei que eles passassem.

Assim que o homem passou, virou-se para mim e perguntou porque é que eu não andava com “aquela cachorrada nojenta na rua”. Aí eu me diverti com o cara, que era bem mais novo e bem mais alto do que eu:

- Tá nervosa, santa? A boneca acordou mal humorada? Nossa mãe...que menina brava...

O cara estacou na calçada e a filhinha perguntou a ele o que é que o homem estava dizendo pra ele. Ele respondeu que era apenas um velho louco que estava xingando.

- É sim, garota, é um velho louco pra dar uma porradas na cara do seu paizinho. Esse traveco covarde que agüenta xingamento sem reagir. E de um velho, ainda por cima...

Enquanto xingava, amarrei os cachorros em uma árvore e preparei-me para a encrenca. Mas não foi preciso, já que o cara apressou o passo e sumiu. Sumiu dando-me cada vez mais certeza de que a grosseria é a arma dos fracos e dos covardes.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 08/04/2008
Reeditado em 08/04/2008
Código do texto: T936687
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