O DOSSIÊ DE FHC

Esse governo é um fenômeno. É "sui generis". É como uma piada de mau gosto. Infelizmente para nós, que já o estamos suportando desde 2003 e teremos que agüentá-lo até 2010. Democracia é assim mesmo. Prevalece a vontade da maioria. Se a maioria optar por naufragar o navio, vamos juntos.

A cada escândalo que surge (e são frequentes) é montado um teatro para blindar a figura do presidente. Na pior das hipóteses ele próprio afirma que não sabia de nada e a bomba vai estourar nas mãos de alguém, que pode ser um inocente útil, isto quando estoura. Esse expediente tem enganado a maior parte do eleitorado brasileiro que, infelizmente, não se dá conta do que realmente acontece nos bastidores da politicagem.

Tudo isso me remete a um pensamento do filósofo russo Mickail Bakunin (séc. XIX), quando ele se referiu ao proletariado que chega ao poder. Quem não conhecer o pensamento é só procurar na Internet. Parece que Bakunin, na ocasião, estava dando ao mundo uma fotografia do que viria a acontecer no Brasil no século XXI. Em alguns países o fenômeno também já aconteceu.

O último escândalo (outros virão) foi o vasamento de informações da Casa Civil sobre gastos do governo FHC com os tais cartões corporativos. Como o atual governo vinha sendo acusado e pressionado pelos exacerbados e exdrúxulos gastos com a utilização dos citados cartões, por diversas figuras de confiança do presidente, ele resolveu se defender, ou calar os que o acusavam, mandando apurar os gastos do governo anterior.

Diversas autoridades do governo se pronunciaram, sempre com desculpas não convincentes ou esfarrapadas. Foi criada uma CPI mista, com predominância absoluta de aliados governistas, para apurar o que acontece ou aconteceu com os mencionados gastos. Não vai dar em nada, já que os governistas são imensa maioria. Ninguém quer perder os privilégios que um governo como esse propicia.

De repente, alguém do governo lança uma idéia "brilhante": "Vamos acionar a Polícia Federal para descobrir como o dossiê vazou". Vazou porque existia de fato e alguém, do governo, o permitiu ou foi convencido a fazê-lo. Possivelmente a bomba vai estourar nas mãos de um funcionário sem maior qualificação. Lembram do caso Paloci e o caseiro? Só que o Paloci caiu. Caiu mas não perdeu nada, não foi preso, não teve nenhuma punição e tudo fica por isso mesmo. E o caso do Delúbio, lembram-se? Deu em quê? E o Silvio Pereira, coitado.

A mídia adora esses acontecimentos. É assunto para muitas edições de jornais impressos e televisivos, revistas, manchetes e vai por aí. Em breve, como nada será apurado e tudo continuará na mesma, ninguém toca mais no assunto. Até que um novo escândalo apareça, o Brasil vai de vento em popa. Educação às mil maravilhas, saúde idem, salários dígnos para professores e profissionais da saúde, infra-estrutura adequada, a mãe do PAC cada vez mais prestigiada, etc., etc..

O negócio é permanecer no poder a qualquer custo. Bem dizia Bakunin, em mil oitocentos e qualquer coisa. O negócio deve ser bom. Tanto é que o vice-presidente acaba de dizer que seria desejável um terceiro mandato para o presidente atual. Se a moda da Venezuela pega ...

Qual o motivo de esconder do povo brasileiro que, em suma, paga todas as contas que o governo gasta, as despesas feitas com o agora famoso cartão corporativo? Se os gastos são legítimos, são definidos, regulamentados e controlados, nada mais saudável que venham a público. Alguns defendem a tese de que certos gastos da presidência são questão de segurança nacional. O seu escamoteamento é que é questão de vergonha nacional, se é que podemos ainda ter esse sentimento.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 08/04/2008
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