A BELEZA

Envelhecer com dignidade, mas sem pressa! Esse o lema que , se não justifica, pelo menos explica onde vai a outra metade dos salários de nós mulheres, desaparecendo naquele buraco-negro que fica em algum lugar entre a esteticista, a depilação, o cabeleireiro, a manicure e, claro, toda e qualquer novidade cosmética que prometa parar você no tempo, o quanto mais cara, melhor, afinal, já que se trata de milagre, dá mais credibilidade ao santo.

Outro dia achei meu primeiro pentelho branco. Quase chorei. Já me conformei, mas ainda não superei o trauma: Sexo, por hora, só no escuro! A vaidade é mesmo um cárcere privado sobre nossos aspectos públicos ou a eventual e potencial publicidade de algum aspecto privado. Lembro-me, na infância, da minha mãe... “Menina! Não me vá sair de casa com essa calcinha furada!”, ora, roupa velha é sempre mais confortável, e, retrucando eu que ninguém iria ver, lá vinha ela: “Você não sabe... vai que você é atropelada no meio do caminho e vai parar no hospital... quê que vão pensar de mim com uma filha mulambenta?...” Hoje, consigo pensar em hipóteses bem mais interessantes e bem menos absurdas prá dita potencial publicidade do privado, as quais definitivamente não têm nada a ver com o que vão pensar da minha mãe, mas, de qualquer maneira, calcinha furada está fora de cogitação.

Não sei o porquê, mas toda vez que penso na vaidade, e na tal da honra subjetiva (o que você pensa de você mesma/o), sempre me vem à cabeça Monteiro Lobato, escritor do qual, afora o Sítio do Pica-Pau Amarelo e o fato de ser um dos homens mais feios que já vi na vida, confesso, quase nada sei. Na infância queria ser Pedrinho, na adolescência, Narizinho, e, hoje, na segunda idade (é essa que vem antes da terceira, né?), tudo o que eu rezo a deus todos os dias é que o bom-senso, o bom-gosto e o bom-trato me salvem de ver a Emília ou a Dona Benta do outro lado do espelho. O Rabicó então... melhor nem pensar...

Espelho, espelho meu... será que a Catherine Zeta-Jones gosta de maçãs?... Oh mulher bonita! Puta merda! Chega a dar raiva...

Aí vem meu pai na memória, feito um mini-flash-back, ele de peito inchado, parecia um pombo – só faltava arrulhar, todo orgulhoso da nova mulher, da minha idade... “Eu conheci o ex-marido dela, eu não sou viado, mas o cara é bonito! Mas eu não sou viado!”... E falando tanto assim de espelhos, vaidades, homofobias e viados, ando precisando ler “O retrato de Dorian Gray” de novo... outro dia garimpava pela net, deliciando-me com um belo texto, de um admirável poeta virtual que planta seus rebentos por aqui vez ou outra, e eis a pérola que colho em um dos comentários a ele deixados (graças-a-deus não era a um texto meu, caso contrário eu teria tido um enfarto, ou uma diarréia...), mais ou menos assim: “Oscar Wild (é... sem o “e”), o cara escrevia bem, mas era adepto do homossexualismo, tô fora!”

Bom, primeiro, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) é homossexualidade, e não homossexualismo, e, ao menos até a última vez em que eu chequei, não era religião, movimento estudantil, teoria política e nem absorvente íntimo, portanto, você não adere.

E fora 'tô eu! Foríssima!

Oscar Wilde você não lê, mas a Angelina Jolie você comia né?... ambos são “adeptos”... aliás, de preconceito em preconceito, se não me engano, a ex (ou não?) namorada dela, além de linda, é negra. Mas a única cabeça que você tem que pensa o suficiente prá não ter preconceitos é outra....

E tinha o Fabiano na faculdade... psicólogo formado, cursando História por diversão e curiosidade, e o melhor elogio dele à menina mais bonita do campus: “Ela é um dinossauro!”... Como assim?... “Puta corpão, mas olha a cabecinha...”... Confesso, minha vaidade vai além da cruzada dos meus peitos contra a lei da gravidade, meus pés-de-galinha ou meus cabelos brancos, abrange, também, meus neurônios; Não sou nenhum Einstein, não reinventei a penicilina, mas sei que dois mais dois não são necessariamente quatro, e sei também que não posso chamar de idiota, porque idiotismo (de novo) segundo a OMS, é uma patologia clínica, não uma ridicularidade voluntária à qual certas pessoas se submetem quando perdem aquela grande oportunidade de calar a boca....

Mas que deve ter um p... pequeno (ou ineficiente), isso deve...

Preconceito?

Dalila Langoni
Enviado por Dalila Langoni em 08/04/2008
Reeditado em 09/04/2008
Código do texto: T937372