Eu não entendo esse negócio de “ficar”. Quer dizer, claro que entendo! Se vai a uma festa, se encontra alguém, pinta um clima, fica-se ali, nos beijinhos e tal. E a vida segue...

Mas “ficar” depois dos quarenta e bem depois??? E “ficar” com quem já se conhece, já sabe as afinidades????
Ir além, muito além de uns beijinhos, aliás beijinhos raros.
E depois simplesmente não havia nada...
A gente só “ficava”... Ah, tá!
Bacana se fosse só isso...

Então funcionava assim, era preciso viajar alguns km,
fazer planos, caminhar muito aquelas caminhadas deliciosas, com cheiro de mato e barulho de mar...
Eram noites de lua e sanduíches na praça
Eram jantinhas improvisadas e tórridos momentos de amor...
Amor??? Que amor??? Aquilo era “ficar”...
Todas as grandes filosofias, as grandes leituras de poesias...
Tudo era “ficar”... Ah, ta!

Depois um voltava pra casa e o outro despejava seu charme
a todas as pretendentes, cada qual com uma desculpa para
não encarar aquela vida de dureza e “pieguice de poesia”...
E então, de repente, assim, não mais que de repente,
como diria Vinícius, o que ficava se viu “apaixonado”...
Viu que os olhos verdes de sua “ficante” eram tão belos quanto os da musa que lhe deu um pé...
Viu que sua “ficante” tinha fôlego para caminhar por lugares
bem mais insalubres que corredores de shoppings. Viu que ela “ficava” porque as conversas tinham conteúdo...
E que ela via nele quem realmente era... ou pelo menos parecia ser...
E ele então se apaixonou...
Assim, “de repente, não mais que de repente”...
Ficou tão apaixonado, mas esqueceu de aposentar o Don Juan...

E só não se tocou
Que era tarde demais....



Foto
Praia Mole - Floripaaaaaaaaaaaaa