DESSA VEZ, ME LEVE A SÉRIO...

Quando iniciei minha vida profissional, há mais de vinte anos, num departamento de Recursos Humanos de uma empresa concessionária de Energia Elétrica do interior de São Paulo, hoje uma grande empresa distribuidora com atuação em vários Estados brasileiros, algo chamava atenção. Havia uma tabela de cargos e salários, onde os parâmetros para tal categorização eram o merecimento e o tempo de serviço. Portanto um funcionário recém admitido sempre ganharia menos que um mais velho de casa, mesmo exercendo função semelhante, a não ser que fosse diferenciado por merecimento transformado em produtividade. Todos sabiam de antemão que quem produzisse a contento e demonstrasse dedicação à empresa não ficaria na saudade, logo seria recompensado mudando de categoria com conseqüente aumento de salário. Desta feita, eu que iniciei ganhando um salário insatisfatório, no final do primeiro ano de trabalho estava ganhando quatro vezes o salário inicial, devido ao tal merecimento, pois assumi postos que estavam além da expectativa inicial, dei conta do recado e deu no que deu, em mudança de cargos e vencimentos.

Isso acontecia em todas as empresas, à época. Era assim! Talvez gerasse em alguma ocasião injustiças, por protecionismos e ou perseguições indevidos.

Às vezes, esquecemos dessas coisas e só lembramos dos aspectos negativos dos períodos mais antigos. De repente, achamos que tudo que existia no período negro da Revolução Militar de 64 era ruim. Claro, estavam cassados os direitos de greves e muitos outros. Considerando o aspecto trabalhista apenas.

Pensando nas causas, que levaram o Brasil à famigerada revolução, alguém tem coragem de admitir o que está pensando? Ou sente-se constrangido a concordar com a maioria esmagadora, que prefere enxergar através de filtro confortável, de trás de nuvens de fumaça?

Ninguém duvida que a moda da época era protestar contra tudo e contra todos, inspirada em ideologias marxistas e leninistas. O barato era ir às ruas defender direitos que a maioria não entendia quais, mas embalada pelo LSD e tais, a partir das Universidades, principalmente USP, paralisavam fábricas, universidades, órgãos públicos com greves infindáveis, numa disputa de forças que lembra bem os dias de hoje. De onde vieram os companheiros?

É sabido que, um parafuso espana quando apertado em demasia. Some-se, quem sabe, a incapacidade dos governantes da época em lidar com a situação e o medo sem clareza do setor militar, o resto da Historia já sabemos.

O que se pretendiam naqueles tempos? Dizem hoje que lutaram por um País livre com liberdades democráticas, onde o povo deixasse de ser oprimido e coisa e tal. Parece que ouvimos as mesmas cantigas nos programas eleitorais atuais, mas devo estar enganado, não são as mesmas!

Parece que o objetivo era chegar ao poder, e testar novas fórmulas de governar, mas a revolução brecou este sonho, por um tempo.

Bem, agora há vinte anos os companheiros da época, nem tão companheiros hoje, chegaram ao poder e estão aí. O que mudou? As tais liberdades democráticas continuam como sonho para a maioria, e o povo continua oprimido, como antes. De repente, parece que o papo era furado e que os que ocupam o poder, hoje, e que se orgulham de ter sido heróis no passado, buscaram logo um jeitinho de obter suas compensações, com indenizações por danos sofridos e pensões, não se sabe por que! Motivos para tais compensações eles sempre arrumam. No entanto, estes, que buscam suas recompensas, também deveriam ser responsabilizados por terem dado esperanças falsas para o povo, e indenizar o povo por isso!

E nem quero falar que os corruptos de hoje são os críticos ferrenhos do passado. Pior é que tudo continua como antes. A corrupção não foi privilégio da revolução de 64. As greves e os movimentos chamados sociais que “infernizaram” (parafraseando aqui um líder do MST) as fábricas e as instituições no passado, hoje estão aí com a mesma volúpia e irresponsabilidade de antes. Não que fazer greves não devesse ser direito legitimo, mas se legitimo for não há necessidade de depredações, saques, balbúrdia, invasões e outros absurdos que oprimem o povo que não sabe mais o que fazer.

É de se questionar o modelo sindical no Brasil. Queremos sindicatos que realmente sejam representativos e representantes dos trabalhadores, sem bandeiras políticas, sem cores de partidos políticos, onde os lideres estejam, como representantes dos trabalhadores que são, atentos aos anseios deste, não usando de promessas falsas e slogans ideológicos obscuros para conseguirem apoios para suas pretensões políticas, como tem sido. Como cidadão, qualquer um pode aspirar estes postos, mas usar a máquina sindical, torcendo sua finalidade para isso, não parece correto. Fora isso, vemos que há uma gana dos sindicatos, em medir força com o capital, sufocando as empresas, forçando através de greves muitas vezes ilegais, custos e mais custos a elas, como se fosse crime ter capital e constituir uma fábrica.

Estamos caminhando, novamente para um engessamento do setor produtivo (já sufocado por uma carga tributária elevadíssima), com direitos e mais direitos forçados às empresas sem ao menos poderem negociar em condições de igualdade, pois a justiça trabalhista sempre se mostra simpática às causas operárias, em princípio, nem sempre importando a razão.

Está aí a gritaria por reforma trabalhista! A impressão que dá é que a culpa de tudo seja toda do governo. Os sindicatos e centrais de trabalhadores engrossaram tanto a folha de pagamentos com contribuições, encargos, direitos que agora é preciso enxugá-la. Ninguém pensou nisso antes?

Como disse no inicio do assunto, antes eu ganhava aumentos salariais por merecimento. Após a retomada das tais liberdades democráticas, com o ressurgimento dos sindicatos com força contundente, a primeira coisa que mudou foi a forma de remunerar o trabalho, com nivelamento salarial por baixo. O patrão não podia mais dispor de sua liberalidade para premiar algum funcionário, pois teria que nivelar todos os salários para função semelhante, não importando se os demais são produtivos quanto o outro. Bom para quem não está nem aí com o trabalho e com a empresa.

Daí começam novamente as greves, direito legitimo em principio. No inicio lutas por direitos, direitos, sempre direitos, reposições salariais que nunca terminam de serem repostas, aumentos salariais, diminuição de horas trabalhadas, etc. Parece que as greves de hoje estão se transformando em férias coletivas, pois os dias parados sempre são pagos. Vejam o caso do funcionalismo público em todos os níveis. Sendo sua função tão essencial para o atendimento da população quanto à segurança, educação, saúde, transporte, não há respeito com o direito dos outros que não estão envolvidos com determinada greve. Você já percebeu que quase todos os setores públicos só funcionam bem uns oito meses por ano. Um mês é de férias regulares e o restante do tempo é para as folgas conseguidas graças a pelo menos duas greves infindáveis, que ninguém entende porque são deflagradas, senão para conseguir mais férias às custas do povo. E pensar que o salário é tão baixo, não?

O salário pode até ser baixo, mas pelo serviço que está pagando, está até bom. E haja direitos para reclamar!

Se um dia os motivos reais que levam à greve e os motivos reais para a constituição dos milhares de sindicatos forem justos, claros, sem maquinações espúrias à calada da noite, sem interesses particulares na ordem, então teremos que prestar continência, pois estariam prestando um grande serviço aos trabalhadores.

Então não resta nada aos sindicatos? Resta sim. Fala-se muito hoje em reforma trabalhista. Poderia-se aproveitar melhor o tempo e pensar naquilo que é fundamental para uma atividade produtiva saudável e satisfatória para cara e coroa, com resguardo de direitos aos trabalhadores, mas também com garantias de que o capital será remunerado adequadamente. Não podemos pensar em salário como custo da empresa e sim como investimento. Cada real pago a mais ao trabalhador hoje voltará amanhã como consumo, com conseqüente geração de empregos.

Ledo engano dos que pensam que a colocação de um monte de obrigações trabalhistas nas folhas de pagamentos será de algum beneficio ao trabalhador. Servirá para aumentar os fundos financeiros de um caminhão de siglas que ficam mamando nas empresas, muito, e nos trabalhadores, um tanto. Outros tantos passarão pelos corredores da corrupção.

O salário é do trabalhador. Se o objetivo for beneficiá-lo, coloque os recursos na sua mão para que ele administre. Por que caminhos passam os recursos tirados das empresas e dos trabalhadores, como se para estes fossem, para melhorar a sua educação, propiciar-lhes lazer, cuidar de sua saúde e tantos mais? Se for para o trabalhador, coloque na mão dele no dia do pagamento! Creio, ele saberá cuidar de sua educação, de seu lazer e de sua saúde. Seu salário, porém, não dá, pois metade fica nas mãos administrativas de outros.

Há muita coisa em que pensar para um sindicalismo forte, e leal...