Crônica sem idade e sem maldade

De Edson Gonçalves Ferreira

Para Celina Figueiredo, Sônia e Beto Wada (especial)

e, ainda, para Claraluna, Zélia Nicolodi, Sunny Lóra,

Fernanda Araújo, Henricabílio, Teris H. Filho, Bernard

Gontier, Malubarni, Milla Pereira, Kathleen Lessa,

Meriam, Teresa, Susana Custódio e todos que

navegam no Recanto das Letras amorosas

Trem bão, trem ruim!... A Sônia vai ter neném e, daqui a pouco, quando a criança começar a falar, vai nos chamar de velhos. Dirá: _ Vocês são do século passado! Até você, Teris, que só tem dezoito anos, está velho... Como é que pode, meu Deus? _ Peter Pan, ó, Peter Pan, corre aqui, corre aqui. _ Que foi, Edson? Pra quê tanta afobação? _ Eu estava lendo um recado da Celina. Atrevida, ela disse que bisatiavó, sei lá o quê, do menino da Sônia. _ Qual é, meu? – respondeu Peter Pan. Só tem idade quem não acorda sonhos. Celina é uma menina vivida só isso. _ Eu sei – respondi – ela é uma garota sensacional, mas ela está com a mania de se achar anciã. _ Anciã? – respondeu o Pequeno Príncipe – Diz pra ela que esta palavra está abolida do dicionário. E a Rainha de Copas, entrando na conversa, sem pedir licença, gritou: _ Mandei tirar, mandei tirar, se os dicionaristas não tirarem, eu corto, eu corto, eu corto a cabeça deles.

De repente, ouvi um barulhão. Quando olhei vi a Fada Sininho chegando, puxando atrás de si a Celina, a Kathleen, a Claraluna, a Zélia Nicolodi, a Sunny Lóra, a Fernanda Araújo, o Henricabílio, o Teris, o Bernard, a Malubarni, a Milla, a Teresa Rodrigues, a Meriam, a Susana... _ Meu Deus! – gritei – Na minha casa não cabe tanta gente assim! Vocês vão ter que sentar um grudadinho no outro. Vocês vieram para quê? Então, o Pequeno Príncipe que, até então, eu não tinha notado, mas que estava sentado como eu, com as pernas igual sapo, no chão, retrucou: _Você falou do chá e, então, todos quiseram vir para o chá das cinco. _Mas são 6 horas, menino!... – respondi - _ Que tem isso? Você pega a erva-cidreira, ali na varanda tem uma palmeira de erva-cidreira, não tem, e faz o chá. _ E sirvo com o quê? Não tem biscoito que dê para todo mundo. Entendeu? Então, a Fernanda Araújo, trevida mesmo, retrucou: _ Eu vôo até lá em casa e trago, porque fiz, na roça, uma porção. Respondi: _ Então vai, diaba. A Sônia e o Beto vão ficar com raiva, estão lá do outro lado do mundo acordando...

Aí, então, quando fui buscar erva-cidreira na sacada do prédio, plantada num vaso, amarrada com corda de bacalhau e, portanto, parecendo um coqueiro, dei com a raposa do Pequeno Príncipe, com aquele olhar de mel, encolhidinha no canto, olhando para mim. _ Você também veio? – perguntei. _É claro, eu tinha que me encontrar com este povo delicioso que sabe o que é rito. _ Você conhece todo mundo – perguntei. _ Eu não, mas eles me conhecem. Preciso falar com a Celina que ela é moça, muito moça, porque é a senhora dos sonhos doces e gente assim não envelhece nunca. _ Então vai lá e conversa com ele, vai! E, enquanto a raposa se dirigia até Celina, eu ouvia as gargalhadas da turma que, enquanto esperava o chá que eu, escrava isaura, iria fazer, se deliciava com as histórias que a Emília e o Pinóquio, que acabavam de chegar, contavam. O jeito era bancar a mucama. Foi o que fiz,prazerosamente!

Divinópolis, 13.04.08

edson gonçalves ferreira
Enviado por edson gonçalves ferreira em 14/04/2008
Reeditado em 16/04/2008
Código do texto: T944672
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