De lápis e papel na mão

Vem do fundo da memória uma grata recordação.

É remota, é suave e me enche de prazer.

Antes mesmo de escrever, como qualquer criança do meu tempo, relembro os lápis de cor que coloriram minha infância.Eram lindos e me permitiam desenhos, na verdade, garatujas, saídas da imaginação. De todas as cores eles se prestavam a combinações infinitas que eu insistia criar.

Mais tarde já na idade escolar se daria minha maior conquista: escrever meu nome e mais além, formar letra por letra as palavras mágicas que depois viria ler nos livros.Uma a uma copiadas da cartilha, elas eram caprichosamente alinhadas no caderno de caligrafia. E era o lápis a minha ferramenta.

Nesse tempo, para apontá-lo era preciso uma faca, tarefa que só um adulto podia realizar com destreza e sem perigo.

Assim se passaram alguns anos.

Foram quilômetros e mais quilômetros de linhas enchendo cadernos com o uso do lápis e um calo simbólico ganho no dedo.

Cumpri dessa forma o ritual obrigatório para atingir o uso da caneta tinteiro, minha maior aspiração.

Triunfo total foi poder fazer minha primeira lição toda a tinta.

Alegria e prazer inenarrável foi antes ganhar a caneta dos sonhos. De marca modesta, ela reluzia no seu estojo escrito Shaffer’s, e premiava todo meu esforço para a obtenção de notas altas. Era bordô com tampa prateada e nunca se afastava do tinteiro e do mata-borrão. Hoje jaz no fundo de uma gaveta.

Assim meu arsenal aumentava e a vontade de aprender também.

Num tempo como o nosso, recordar tais coisas, me faz divagar.

Hoje as canetas descartáveis que proliferam têm infinitas formas e cores, enquanto meu mundo era só grafite e azul real.

Acho que minto ou pelo menos me esqueço das lições de letras, góticas, a pena, com o uso de nanquim preta como as asas da graúna, plagiando o poeta. Nisso o capricho era mais do que requisito era uma obrigação, sem contar que com o passar do tempo chegava as minhas mãos a caneta descartável, de madeira e tampinha, antecessora da de plástico transparente, tão em voga tempos depois.

Tudo isso me leva a valorizar muito o teclado, ora a minha frente, que vai colocando na tela as letras das minhas recordações.

Só Suely
Enviado por Só Suely em 04/01/2006
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