Suicída em Potencial

Quando digo que sou uma suicida em potencial as pessoas não entendem. Isso porque assumir, vez ou outra, que não se quer continuar vivendo, soa como um atentado a Deus. Na realidade, cada vez que tento morrer, bem lá no âmago, quero desesperadamente ser salva. É por isso que, potencialmente posso me tornar uma suicida, mas efetivamente não passo de uma covarde.

Considero que eu amo demais a vida e, cogitando a morte, estaria revelando meu descontentamento.

Na prática, suicida que é suicida não promete, não cogita, não ameaça, apenas faz e faz bem feito. Suicida que é suicida morre. É fato. Fora isso, tudo não passa de encenação, melodrama, intensificação exagerada de sentimentos. Sei porque me enquadro perfeitamente nesta categoria, dos que prometem e não fazem nada.

Há uma conhecida, que após o namorado terminar a relação saiu correndo em uma avenida de grande fluxo por entre os carros. Ela queria morrer? Ou queria apenas chamar atenção? Nenhum carro atingiu a garota. Ela sabia que os carros desviariam. Surtiu efeito? Bem, ela não morreu, caso contrário eu não falaria sobre isso com tanta ironia, mas conseguiu que o namorado se compadecesse e revisse a possibilidade de continuar o namoro. Há quem tome cartelas e mais cartelas de comprimidos que causam vômitos, tonturas, náuseas, mas que não matam ninguém. Dessa estratégia medíocre já provei e garanto que só funciona uma vez. Depois vira rotina, birra, manha de menina mimada.

Quando alguém diz pra mim que já tentou se matar eu respondo: e daí? Quem já não tentou? O que não falta no mundo é um bando de covardes que ameaça e não faz nada. Alcoólatras, compulsivos alimentares, sedentários, esportistas radicais também são todos suicidas em potencial, sem se dar conta disso. Há também uma série de pretensas atrizes da vida moderna que ameaçam por fim à própria vida a cada descontentamento.

No discurso dos cristãos, suicida é covarde. Não, não, não! Covarde somos nós. Vivemos com a corda amarrada no pescoço, só não empurramos o banquinho cambaleante que nos sustenta para o chão. Às vezes, nem ao menos acreditamos que nossa situação possa melhorar. Em prol da fé, continuamos vivendo com medo do último suspiro. Medo da condenação pós-morte. Algo incoerente, viver num inferno com medo de morrer e ir para outro inferno.

Penso assim também. Luto contra isso e ter a coragem dos homens-bomba e dos kamikazes, mas não tenho. E enquanto isso, apenas vivo.