A CACHORRINHA LAICA

Quase todo brasileiro já teve, tem ou vai ter uma cachorrinha chamada Laica. Se você não teve, caro leitor, certamente já conheceu ou conhece um dono de Laica. Laica foi a famosa primeira astronauta. Foi ao espaço como cobaia dos soviéticos, não muito certos de que a geringonça que estavam para lançar traria seu ocupante são e salvo de volta à Terra. Pois bem, Laica foi e voltou, virou heroína e nome de cadelinha mundo afora. Nesta semana inauguraram uma estátua dela. Um erro histórico, finalmente reparado.

Minha infância também teve uma Laica, afinal estávamos nos anos sessenta e todo quarteirão teve a sua. A cachorra não era minha, mas de um amigo e para todos da turma era igualzinha a das fotos dos jornais. Só que aquela que nos acompanhou por muitos anos era colorida e muito mais bonita do que a sua sósia russa das fotos desbotadas do papel jornal. A cor predominante era branca e ela ostentava suas manchas marrons e pretas com muito orgulho e galhardia. Suas orelhas quebravam antes da ponta, sendo que uma delas era marrom e a outra branca. Tinha uma mancha preta em volta de um dos olhos e era extremamente brincalhona e alerta.

Nós eramos fãs do Vigilante Carlos e de seu cachorro Lobo, papel muito bem desempenhado pelo meu Pastor Alemão. Como a Laica não podia ficar de fora e não se contentava apenas com o papel de gandula, nos jogos que protagonizávamos no campinho, passamos a incluí-la quando brincávamos de National Kid, outro dos nossos heróis. Experimentamos de tudo, desde amarrar balões na coitada, para ver se flutuava, até catapultá-la de modo que voasse como a do russos. Ela aguentava todas as barbaridades, desde que fosse o centro das atenções, sempre abanando o rabo e latindo alegre. Após cada vôo, voltava para o próximo, de forma veloz e destemida. Grande companheira, esquecida no sótão da memória, até que a foto da estátua, recém inaugurada, me fez até ouvir o seu latido alegre e correr uma lágrima solitária em sua homenagem.

Pois é, Laica agora virou estátua e, assim, jamais será esquecida. Quem sabe um dia possa fazer-lhe uma visita e levar-lhe uma barrinha de Diamante Negro para depositar a seus pés, sua guloseima favorita.

Ocirema Solrac
Enviado por Ocirema Solrac em 15/04/2008
Reeditado em 10/05/2010
Código do texto: T946947
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.