VELHICE

Radiante, garboso e cheio de vida, tal qual sol de verão, vinha ao mundo, recebendo dos que o rodeavam as atenções, desvelos e carinho dignos de um pequeno rei e assim ele era tido entre os seus, no seu pequeno reino.

Com passos tímidos iniciou a caminhada, rumo a um alvo a ser atingido. Depois dos primeiros e ensaiados passos veio a agilidade que demonstrou no caminhar seguro e firme e etapas foram vencidas, com ou sem sucesso, mas vencidas.

Seu caráter foi se formando, experiências se lhes foram somadas, seus músculos e capacidade cada vez mais fortes e comprovados. Longe estavam os primeiros e indecisos passos. De seus primeiros dias já sentia saudades, pois era passado. O presente para ele é como o sol do meio dia, bem a prumo e futuro, embora incógnito o anima e encoraja.

Repentinamente e para surpresa sua, ao mirar-se no espelho vê uma ruga é a primeira, o seu primeiro cabelo branco. Um arrepio corre pelo seu corpo, um pensamento o toma de assalto e exclama: Meu Deus! É a velhice!

Seus primeiros dias de impacto e surpresa vão se distanciando e ele vai se habituando com a realidade, presente agora em rugas e cabelos brancos em abundância.

A beleza, o vigor físico, a agilidade, o raciocínio rápido, a visão clara do mundo, a audição aos poucos vão lhe deixando. Seus passos agora trêmulos e lentos fazem parte da sua realidade.

O passado está presente em forma de saudade; o presente está visível na dura e real velhice e o futuro se lhe apresenta e acena sem atrativos e sem esperanças.

Termina ele como o ocaso de um dia de verão, aos poucos e lentamente, vai dando lugar à noite da velhice que nem sempre é iluminada pela lua e em muitos casos se caracteriza pela noite escura de um eclipse.

Se ele preparou sua velhice o seu ocaso será como um dia alegre de sol de verão com noite de lua cheia, mas se o preparo não foi o objetivo de sua atenção o seu dia de verão poderá terminar numa noite de inverno e sem a lua para iluminá-la.

JOSE BENEDETTI NETTO