...DIREITOS DE VIDA!

Tudo sempre começa do mesmo jeito. Um moço gosta de uma moça, ou vice versa, ambos resolvem morar juntos. Pronto! Há a necessidade de, pelo menos, duas providências fundamentais para o sucesso de tal decisão. Só o amor não basta!

Já dizia minha avó que quem casa quer casa. Quem casa e tem casa precisa comer, vestir e pagar seus compromissos, portanto precisa de dinheiro. Dinheiro, por sua vez, só é conseguido através de uma relação comercial entre duas ou mais pessoas. Essa relação é o trabalho que garante o salário, que garante a sobrevivência da família.

Constata-se, facilmente, que não temos nem moradias suficientes para todos que casam e querem casas, nem empregos para todos que precisam. Então, uma parte importante dos direitos de vida, não se equaciona.

Criou-se um déficit tão grande nesta área que agora não dá para imaginar solução de curto prazo, portanto boa parte da população continuará sem esse direito fundamental.

Numa situação normal, seria simples. Dois jovens, que pretendessem se unir, tendo bons empregos, não teriam problema em adquirir moradia e garantir subsistência. Nesse caso, o governo nem precisaria montar seu departamento de bolsas.

Como está, a questão torna-se quase insolúvel. Se pensarmos que o emprego resolveria quase todos esses problemas, então porque não apostar mais fichas na geração de empregos? Todo mundo empregado, cada um construindo sua moradia, criando seus filhos e assim numa repetição, geração após geração. Seria uma maravilha! Ninguém precisaria se preocupar com esses direitos fundamentais de vida, moradia e emprego. Estariam sendo respeitados naturalmente. Nesses direitos, estamos considerando todas as necessidades de uma família constituída, quanto a casa, alimentação e manutenção do ambiente familiar. Há quem chame a isso de cesta básica, mas como tenho horror de cestas e bolsas, prefiro denominá-los direitos de vida.

Diante da dificuldade que presenciamos no que diz respeito à geração de empregos, que perspectivas temos? Alguém tem idéia nova para apresentar?

Sempre dizem, que é preciso o crescimento econômico para que isso ocorra. Concordo, mas porque toda vez que se fala em crescimento econômico, só se avalia o produto interno bruto? PIB não garante comida na mesa do trabalhador, nem moradias suficientes para todos. A primeira conclusão que eu tiro quando vejo o crescimento do PIB é que alguém está faturando mais, empresas que produziram e geraram o tal PIB e o governo, que abocanhou quase quarenta por cento disso. E, como diria o professor Raimundo, o da escolinha, “e o salário continua, ó...”, do mesmo tamanho e muito pequeno!

Ainda, de que valeria estimular, de alguma forma, as empresas a produzirem mais se o povo não tem como adquirir os produtos?

Porque não começar diferente? Ao invés de estimular o incremento da produção, porque não aumentar os salários imediatamente, ainda que de forma gradual, para que haja um aumento no consumo e este provoque o aumento de produção, que, por sua vez, levará à necessidade de novas contratações e assim sucessivamente?

Os economistas vão lembrar o plano cruzado, argumentando que a elevação do salário leva ao ágio pela falta de produtos. Só precisamos lembrar também que a principal causa do ágio foi o engessamento dos preços. Outra argumentação será que o aumento de salários ocasionará um impacto grande nos preços. Que aumente, ora! A mão de obra não é o custo mais elevado a ser considerado numa composição de preços.

Nas condições que falei, o start da geração de empregos não seria a abertura imediata de novos postos de trabalho, mas o aumento de salários para quem está empregado. Isso será a mola propulsora que, a curto e médio prazos, alavancará o desenvolvimento e conseqüente geração de empregos. Um achatamento salarial, como vemos no Brasil, não pode dar esperanças de um futuro melhor. Se os salários dos que estão empregados aumentam, a renda familiar se eleva, uma vez que os desempregados também moram, vivem e consomem, mesmo não recebendo nada.

O desempregado é um peso para quem está empregado. Deste modo, continuará sendo por algum tempo, mas, com renda familiar mais elevada, o peso será menor até que o desempregado consiga o seu lugar para trabalhar e possa andar com suas próprias pernas.

Uma vez empregado e com salário justo, nenhum trabalhador terá dificuldade para cuidar de sua casa e da família. Os governos podem ajudar bastante, no caso das moradias, com regras justas para financiamento da construção e aquisição da casa própria...