ZÉ CÂMARA DE AR

Conhecemos “Zé Câmera de Ar” trabalhando como borracheiro no bairro Bomba, atualmente, bairro São José. O bairro tinha esse nome, porque ali foram instaladas as primeiras bombas de gasolina da cidade de Picos.

Zé Câmera era uma das figuras populares, cujo nome de registro o povo não conhecia. Talvez José com algum Silva, Pereira ou Santos no sobrenome, senão Nascimento ou simplesmente “Zé Cama de Ar”.

Cheio de artimanhas Zé, descobriu uns patos no quintal de Dr. José Gregório, botou milho de molho e em plena luz do dia, lançava um anzol com isca de milho por cima do muro e pescava os patos do doutor. Por acaso, Zé Gregório indo ao quintal, viu um pato sendo içado muro à cima. Saiu de mansinho, sem fazer nenhum alarde, apanhou um revólver e rodeou o muro.

- Sim Senhor! Senhor “José Câmera “ é você que já pescou quase todos meus gansos, né? Disse isso apontando um trinta e oito, cheio de balas até a tampa.

Sem nenhuma reação, José Câmara devolveu o pato ainda preso no gastalho do anzol.

- Corte a linha do anzol, Zé.

Pois não, doutor, eu só tava testando a isca, mas pega mesmo! E ficou por isso.

Bem perto de sua borracharia tinha um boteco onde o Zé tomava pinga, principalmente, meio dia e à tardinha para “fechar” o corpo e voltar pra casa. O tira-gosto ele trazia de casa. Não se sabe exatamente, de que casa.. Logo de manhã cedo, deixava sua comida no boteco para quando fosse tomar uma... Normalmente trazia pato, miúdos de frango, moela, fígado ou algum pedaço pequeno, mas quando ia tomar sua pinga, os pinguços das imediações já haviam comido o tira-gosto todo. Um dia, caçando numa lapa nas bandas do Cristovinho, deparou-se com um ninho de urubu com dois filhotes. Os bichinhos eram brancos quem nem galinha de granja e quase morreram de vomitar quando viram o Zé. Querendo vingar-se dos “amigos” que comiam seu tira-gosto, levou os frangotes de urubu pra casa, preparou-os com bom tempero e na segunda-feira entregou no boteco com a recomendação de não deixar ninguém comer. A galera tava de olho. Mais tarde quando foi tomar seu aperitivo, quase mais nada restava do tira-gosto que trouxera, havia um ou outro pedaço de pescoço de ave.

- Bote uma pinga prá mim e passe o tira-gosto prá cá. - Só isso, disse o Senhor José Câmera, olhando a migalha que sobrara. “ Cadê o tira-gosto que mandei você guardar?

- Escondi, mas esse magote de cachaceiro entra e pega. Só sobrou isso! – Mostrou o prato quase vazio.

Zé Câmera fez a maior encenação:

- Eu mato, eu esfolo o “fila” da puta que comeu meus “urubu!”

A autodenúncia foi evidente, até o dono do boteco correu pra rua em ânsia de vômito.

“Zé Câmera de Ar” era um grandalhão que arrastava mais de 120 quilos de medo em sua massa muscular. Certo dia, manobrando o carro de um freguês, chocou-se com um veículo de seu “Paizim”. O Zé desceu gritando: “Seu Paizim, comigo é na paz e no amor, mas se precisar matar eu mato”

Que nada! Nunca matou ninguém, embora seu porte avantajado assustasse muito, só brigava de bate-boca, fazendo zoada feito besouro mangangá.

A cachaçada o levou a fechar sua borracharia em Picos e abrir outra para “fazer força” nos pneus das carruagens do céu.

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Adalberto Antônio de Lima