"O Caso Isabela" = Crônica de Um Cotidiano Infeliz=

Sempre tive uma grande e sincera vontade de ter uma filha. Uma menina que, como minhas três irmãs, seria paparicada, muito amada, ganharia muito carinho e atenção, e seria a princesinha de minha casa, mas a vida me deu apenas filhos homens, no modesto total de sete, frutos de meus três casamentos. Ter uma filha é um sonho que não realizei.

Agora, ao ver a carinha linda da menininha assassinada, tenho vontade de chorar de pena da mãe, dos avós, da tia-madrinha, e de quem mais a conheceu e a amou. Um nó amargo e dolorido me desce pela garganta, as lágrimas afloram aos olhos, apenas molhando-os, mas causando uma dor intensa no coração. Um aperto no peito que dá medo de tanto que dói. Fico imaginando a imensa dor de tão imensa, repentina e brutal perda.

A pergunta que me faço é a mesma que milhões de pessoa devem se fazer ao mesmo tempo que eu: como é possível alguém ter coragem de fazer mal a uma pobre e indefesa criança? A qualquer criança, em qualquer idade, em qualquer situação? Mesmo que fosse uma criança feia, chata, mal educada, seria sempre uma criança que, por ser humana, é um dos mais frágeis espécimes da natureza.

O monstro que atacou a criança de cinco anos teria coragem de enfrentar uma onça da mesma idade? Um pitbull da mesma idade? Qualquer fera da mesma idade? Duvido.

Se foi mesmo verdade que a madrasta a matou e o pai a atirou pela janela, tentando livrar a cara da assassina, eu mesmo regrido mentalmente à Idade Média e quero mais que os dois sejam linchados em praça pública. Terá sido cometido um crime mais do que hediondo. Um crime abominável, horroroso, nojento ao extremo, e seja quem for o seu autor não merece a mínima complacência, a mínima piedade, o mínimo dó por parte de quem quer que seja.

Nestas horas fico imaginando o que se passa na cabeça do advogado de defesa encarregado do caso e dou graças por não estar no lugar dele. Defender tal tipo de assassino deve ser mil vezes mais nojento que embalar fezes com as mãos nuas.

Continuo não concordando com o direito que muita gente se dá de pré-julgar e ir às portas das delegacias para gritar palavras de condenação. Pelo menos até que tudo seja amplamente esclarecido e que não reste mais qualquer dúvida sobre a culpa.

Dentro de alguns dias, ou talvez até já esteja acontecendo, quase ninguém se lembrará de SÍLVIA CALABRESI LIMA, a torturadora contumaz. É a violência sucedendo à violência.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 17/04/2008
Código do texto: T949736
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