"Sei Que é Apenas Um Sonho" =:Crônica sobre um desejo impossível=

Sei que é apenas um sonho, uma utopia, uma coisa irrealizável, mas às vezes penso como seria fantasticamente bom passarmos uma semana, uma mísera semana, um curto período de apenas sete dias, sem que acontecesse um homicídio, um assalto com mortes, um caso de bala perdida, um escândalo político, uma crueldade cometida contra alguém, uma invasão de um país, uma guerra, uma revolução sangrenta, um caso de pedofilia, de incesto, enfim, qualquer tipo de violência. Apenas uma semana, a quatrilhonésima parte de uma fração de tempo no tempo, em que recebêssemos apenas boas notícias nos jornais, nas rádios, na tevê, enfim, na mídia em todas suas formas.

Uma semana seria muito tempo. Sei disso. Pensando bem, seria demais. Deixo por meia semana. Segunda, terça, quarta e metade da quinta-feira sem uma única notícia a nos dar aflição, dor no peito, pena da humanidade, perplexidade, indignação, nojo, revolta, repulsa, asco, dó. Só três dias e meio.

Três dias e meio. Sei não... Não há jeito de sonhar com um período tão grande. São muitos os estados, são muitas as capitais, são milhares os municípios, isso pra falar só de nosso país. Seria pedir muito meia semana de trégua.

Um rodízio? Às segundas, quartas e sextas a violência aconteceria nos estados com números pares. Às terças, quintas e sábados nos estados com números ímpares. Aos domingos todos parariam com a violência porque nem criminoso é de ferro.

Não. Rodízio não daria certo. Sempre haveria os furões, os que desrespeitariam o acordo.

Dois dias de cada semana com decreto baixado pelo Governo Federal: nos dois dias escolhidos a imprensa não poderia ter motivo algum para comunicar violência. Oito dias por mês...Demais, demais mesmo.

Um dia por semana. Pronto. Um dia por semana. Um domingo. Naquele domingo do mês ninguém apertaria um gatilho, ordenaria uma invasão na favela, mataria um filho, estrangularia uma avó para comprar drogas, ninguém jogaria uma filha pela janela, não torturaria a empregadinha, não faria conchavo político, e todo o país passaria um domingo feliz, tranqüilo, repleto de boas notícias.

Ainda assim seria pedir muito? Meio domingo, então. Um quarto de domingo. Um oitavo de domingo por mês e não se fala mais nisso. Fechado?

Não? Tudo bem. Reconheço que seria mesmo impossível uma hora de boas notícias em qualquer dia do ano. Com meia hora de paz total no país eu ficaria absolutamente satisfeito. Deixo até por quinze minutos, mas que nesses quinze minutos nada de mau aconteça em todo o país. Pô, Violência...Quinze minutinhos...Até você precisa de um descanso de vez em quando.

Enquanto meu site não volta a funcionar,

cronico...

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 17/04/2008
Código do texto: T949996
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