Itinerário da Saudade

Primeiro vem a dor da perda. Fulminante, em seu total esplendor de fúria. É quando o indivíduo se vê envolto en um momento de epifania e descobre que está sozinho... Às vezes é um momento único, mas em outros casos é algo incessante. É a solidão. A premissa ou prefácio de um livro de agonia, passageira ou eterna.

Logo em seguida o tédio. Aquilo que o corpo sente no dia-a-dia após a ilusão da proximidade estar apagada. Tudo se assemelha. Os dias passam e nada parece ter mais aquele brilho de outrora. E o tempo contempla o ser que segue um percurso rumo ao destino escrito por ele mesmo. Um corpo vagabundo, verossímil à uma materia falecida, podre... Recém saída do ataúde. É a maldita viagem. O torpo da depressão, da agonia. A dor da solidão...

Passam as árvores, postes, gente, casa, bicho... Um veículo que corre; escalando serra ou desbravando o sertão. O úlitmo trecho do itinerário. Todos os dias solitários e agonizantes vão falecendo na memória. Tudo que o ser deseja é um canto de paz... Independente da direção... É assim a trajetória: da dor à luz; desta para aquela. O ser humano, sujeito às peripécias do idealismo de dor e de saudade, se vê livre. Todo o caminho que lembra as florestas negras e escuras dos irmãos Grimm... Todos estão à deriva neste caminho - até este que vos escreve!

Vai e não olha para trás... Tudo vai sumindo, deriva na imensidão do mundo. É assim, como na vista da serra que, quanto mais subo, mas atento que o inferno é realmente logo abaixo do céu, este que é alcançado pela via tortuosa que pecorremos... No sertão, é a vida seca que passa do lado de lá da janela. Boi, mandacarú, jurema preta - espinhos de uma dor maior... Êxodo.

São inúmeros trechos desse itinerário de saudade... O ser que se vai por esse caminho, escolhe se sua estrada é eterna ou passageira...

O trem pecorre... E corre... E morre no fim da saudade. Ah! Enfim itinerário...