...ESSA TAL LIBERDADE!

Na idade da pedra, o homem, tendo um número pequeno de competidores, era livre para ir e vir, gritar, falar, até berrar, caso não pudesse ainda falar. É direito de todo o ser humano ser livre para ir, vir e até dizer o que quiser sem sofrer perseguição por isto. Há uma relatividade notória nesta afirmação.

Num espaço amplo podemos dizer que as liberdades também são mais irrestritas, mas com a diminuição dos espaços individuais as liberdades também se restringem.

Como flexibilizar os espaços individuais? Pensamos em duas maneiras de alargar ou estreitar esses espaços.

A primeira é derivada de simples divisão territorial, onde cada um ocupa um espaço numa coletividade. Interessante, alguém já disse, há séculos, que dois corpos não ocupam o mesmo espaço. O ser humano mora em algum lugar, seu espaço, tem seu trabalho, seu espaço, tem seus locais de lazer, seu espaço, etc. Atualmente estes quesitos não são unanimidade. Nas áreas urbanas, densamente povoadas, esses espaços são mais exíguos, por isso é fundamental que cuidados sejam tomados quanto a respeitar os limites uns dos outros. Na zona rural e em áreas menos povoadas podemos até dizer que esses espaços são mais amplos, e em certo sentido as liberdades podem até aumentar.

Quando cursava o primário, hoje ensino fundamental, minhas professoras já enfatizavam o valor de se respeitar as liberdades, uns dos outros. Elas diziam que “a minha liberdade termina onde começa a do próximo”. Então podemos pensar que essas liberdades tão apregoadas não são ilimitadas. Nós que vivemos e dividimos os espaços, temos direitos a uma liberdade restrita em espaços restritos.

Não me parece coerente, se eu quiser ocupar um espaço já ocupado por outro, seja a que pretexto for. A minha liberdade individual não me permite isto. Logicamente, existem as leis e códigos que regulam os direitos e deveres de cada cidadão. O problema é quando são violados.

Um antigo colega de trabalho, na primeira empresa em que trabalhei, costumava dizer à mesa nos restaurantes, quando o fazíamos em viagens de serviços, que “as leis são como novelo, sempre possuem pelo menos uma ponta para se puxar”. Segundo ele, qualquer lei, quando se puxa uma ponta perde seu valor e sua função. Daí, talvez a impressão que temos de que sempre há alguém com liberdades excessivas e privando-nos das nossas.

A segunda maneira diz respeito às liberdades de expressão. Evidentemente não aceitamos a censura altamente escrupulosa e, muitas vezes, parcimoniosa, mas não acreditamos em liberdade de expressão totalmente irrestrita. Ninguém deve ser preso por dizer o que quer ou criticar este ou aquele poder ou poderoso, mas a liberdade de expressão deve carregar uma dose certa de responsabilidade. De modo algum esta liberdade pode ferir o direito do próximo ter sua honra e privacidade preservadas.

Talvez seja hora de se pensar um pouco nessas tais liberdades individuais e de expressão, não só do ponto de vista do emissor, mas também do ponto de vista do receptor. Está todo mundo querendo ser boca, mas alguém tem que ser ouvido.

Ninguém aceita um certo controle neste sentido, isto seria a censura, tida pela imprensa como maldita. Melhor tratar de exorcizá-la logo, mas bem que um pouco de respeito às liberdades individuais dos outros seria de bom alvitre. É fácil para os meios de comunicação excomungar logo alguma norma de controle, pois detém a voz que fala. Como a população que é só ouvido poderá se fazer ouvir?

Sem os meios de comunicação o efeito da falta de respeito à liberdade de expressão seria quase nulo. Com os meios de comunicação isto é grave, chegando-se à destruição moral de indivíduos e instituições sem a devida correção quando constatado o erro.

Esta maneira de limitação de espaços é muito constrangedora quando utilizada por governos inescrupulosos e, muitas vezes, tiranos que sufocam o povo tirando-lhes o direito à liberdade de expressão.

Certo dia, um senhor bem velho, com um neto entrando na pré-adolescência, usou de uma sabedoria superior para ensinar ao garoto uma lição sobre as conseqüências do desrespeito à liberdade do outro.

Tendo o neto feito comentários maldosos de um colega de classe e em vista deste assunto estar na ordem dos falatórios de todos os demais colegas a partir de então, o avô lhe repreendeu dizendo que desta forma ele estava magoando o amigo, não era correto agir desta forma. Em seguida, o neto disse que, se o amigo soubesse que fora ele o autor de tais comentários, pediria desculpas e ficaria tudo bem, ao que o avô lhe respondeu: - “meu neto, você pode pedir perdão e ele lhe perdoará, mas isto é como jogar penas ao ventilador. Você desliga o ventilador, mas quero ver você juntar todas as penas que se espalharam e devolvê-las ao seu colega. Se conseguir fazer isso estará tudo bem mesmo”.

Então, dizer que a liberdade é irrestrita é por demais exagerado. Liberdade sem responsabilidade será tão ruim quanto a restrição da liberdade! E, num mundo em que temos que dividir os espaços, é bom que cada um saiba bem onde começa e termina seu espaço e liberdade...!