LEMBRANÇAS DE ISABELLA

Dezoito de abril. Isabella completa seis anos de idade; mas ela simplesmente não vive. Tornou-se um riso enferrujado na fotografia que ainda figura nas lembranças da mãe, numa imagem trêmula e sem cor, distante. Um reflexo insano do que foi Isabella. Menina sorridente, vítima da barbaridade, da crueldade, do desamor.

Na gaveta de lembranças há velhas fotografias, que jamais se multiplicarão. Suas roupas permanecem no armário, intocáveis, à espera de sua senhora. Mas sua senhora tarda a voltar. A mãe, desesperada, continua seu choro. Suas lágrimas parecem conter toda angústia do mundo. O coração, pequeno e doído, ainda busca razões que a própria razão desconhece. As fotos daqueles álbuns de natais passados continuarão intocáveis ao correr voraz das eras... Quando voltará Isabella para os seus? Quando a vida verá novamente aquele sorriso infantil que jamais se deixou abalar através da noite escura, ainda que as sombras a envolvessem? As respostas parecem não existir... parecem não fazer sentido. E sempre que a porta se abre, surge a impressão de que ela está chegando da escola. É como se seu aniversário fosse ainda comemorado. E seu sorriso tocante iluminasse toda a sala, deixando somente o susto de um dia nebuloso.

Sabemos, porém, que isso jamais acontecerá. O coração tenta enganar-se em busca de saída, mas não há saída, a menos que a própria vida tenha nos pregado uma peça misteriosa e sem graça. A saudade vai ficar... As tardes que passou com a mãe serão sempre lembradas... O mundo o qual amava, com sua família, seus brinquedos, seus amigos da escola... isso certamente ninguém apagará. Porque a vida não pode repetir, mas, contrário ao que pensamos, não é como grafite que se apaga ao leve tocar da borracha. A vida é mais plena e fabulosa, não existe borracha que possa apagar os bons momentos que tivemos.

MAURICIO NOVAIS