"Consciência de patriota ainda que tardia" - parte I

“Consciência de patriota

Ainda que tardia” ( parte I )

Por Poet Ha, Abilio Machado.

Nos ‘abris’ de nossos dias, vemos passar, no passado e neste que surge com manhãs iluminadas e um friozinho, é a abertura do calendário e suas datas comemorativas. Já que dizem as más línguas que o brasileiro começa a labuta depois do fevereiro carnavalesco. São datas de fatos, povos e homens de destaque nacional e internacional, aniversários e aniversariantes.

Para falar deste abril, é este um dos meses mais marcantes para o cenário histórico de nosso País.

Cada data comemorativa traz em si, festejos, fomentação a assuntos, nela mesma contidos. Trazem à tona perguntas e opiniões, indagações e dúvidas, discussões e estudos, lembranças e reflexões desta história que por muito tempo foi manipulada por uma gama de pensamentos.

É de dar pena, que muitos de nossos concidadãos esqueçam-se dos fundamentos que envolvem estas datas...

Dia 19 de abril de todos os anos vemos matérias sobre e como está a vida de nossos irmãos e donos da terra, vemos os conquistadores pintarem a face de caras-pálidas, improvisarem cocares e tentarem homenagear como um clamor de desculpa que parece-nos quase tarde, a grande nação indígena, nativos da terra. Hoje, vivem em pequenos espaços chamados de reservas, demarcada como se lhe fosse uma prisão, continuam sendo invadidos pois ainda há branquelos que querem o que na terra dos outros é melhor, são fãs daquele ditado: a grama do vizinho é mais verde.

Esses homens são massacrados, provocados ao crime, sofreram mudanças em seus hábitos, costumes, e muito de sua cultura foram subjugados e desapareceram.

Agora vemos alguns movimentos levados com garra e peito por alguns descendentes que acabaram por usar a ferramenta do branco, formaram-se em universidades, conquistaram o terceiro grau e de canudo à mão saem a pesquisar e tentar revolver a bagunça que se encontra entre as nações, brigam agora para que suas crianças aprendam a língua, conversem a língua e conservem a herança da língua, das danças e dos trabalhos, alguns que mostram que índio é muito mais que vendedores de bijuterias no calçadão das cidades.

Índio quer direitos usurpados, querem áreas de conhecimento, índio não quer ficar coçando na rede, quer mais, quer ver o homem branco de batina lhes pedindo desculpas do tempo que só falar a língua lhes eram aplicados castigos como a chibata e a fome.

Índio talvez queira devolver as vestes que lhes trouxeram a vergonha que nunca sentiram.

Uma comunidade indígena é para ser exemplo ao mundo de como os idosos são valorizados, de como as crianças devem ser educadas, de como cada um deve portar-se para a continuidade da família e de seu grupo. Índio sempre foi tão inteligente em seu conhecimento que usava o dialeto da sua tribo, o dialeto de seus vizinhos e mais o dialeto de todas as nações para poderem sair satisfeitos nas suas reuniões de fronteiras e paz.

Lembrei-me agora de um artigo, sobre uma carta enviada pelos índios Seatle ao Presidente Washington, o qual fez um inquérito para a aquisição de terras para serem doadas aos imigrantes que chegavam à bancarrota... Dizia: ‘ O Presidente informa que quer comprar nossa terra. Mas como é possível comprar ou vender o céu, ou a terra? A idéia nos é estranha... Cada parte desta terra é sagrada para o meu povo, cada arbusto brilhante do pinheiro, cada porção de praia, cada bruma da floresta escura, cada campina e cada inseto que zune. Todos são sagrados na memória e na experiência do meu povo... Uma coisa nós sabemos o nosso Deus é também o seu Deus. A terra é preciosa para Ele e magoá-la é acumular contrariedades sobre o seu criador... Ensinarão vocês às suas crianças o que ensinamos às nossas? Que a terra é nossa mãe? O que acontece à mãe acontece a todos os seus filhos, filhos somos da terra... A terra não pertence ao homem e sim o homem pertence à terra... O que acontecerá... Quando o último pele-vermelha desaparecer, junto com sua vastidão selvagem e a memória for apenas a sombra de uma nuvem se movendo na planície? Estas praias e estas florestas ainda estarão aí? Alguma coisa do espírito de meu povo restará?(Rv. PBca.130).

Me faz pensar sobre os nativos de minha região, os que habitavam os campos largos de sob os braços da Serra de São Luis do Purunã e da Serra das Almas.

Viviam nas áreas de grande fartura de pesca e caça, com abundância de árvores frutíferas. Os Tingüis, da Nação Tupi, viviam ao largo do Rio Açungüi e Ribeirinha, índios valentes e de narizes afilados, eram exímios guerreiros e caçadores natos... Nos Rios Passaúna, Verde e Iguaçú, habitavam os Cabeludos, do Grupo Crens, índios de vastas cabeleiras ou corte radical, não existe dados para afirmar mais relatos, a não ser sua cerâmica e desenhos que os fazem próximos aos Caingangues, então aos Tupis adapta-se as experiências Tupis-Guaranis e aos Crens a dos Caingangues, historiografia, costumes, folclore, contos e vida.

Uma cultura de nossa terra esquecida... Não se era dado valor aos objetos achados e por isso eram destruídos, a cultura de se aprender da cultura é recente e espero que jamais perdida ao vácuo da ignorância. Nem mesmo nas escolas se fazem referência aos nativos de nossa área habitada, não se existe falar de resgates históricos ou de achados tal foi a maneira que foi banida a raiz da terra.

O que faremos para ressarcir o prejuízo cultural destes indivíduos? Nos pintaremos na semana do dia 19 e cantarolemos uns gritos, nas matérias televisivas vamos mostrar suas prosperidades... Não! Vamos contar o que acontecia. Que os índios foram dizimados para que as terras fossem dadas aos conquistadores e politicamente usadas. Vamos contar que quando os índios flecharam os aviões é por que estes aviões jogavam sua descarga de dejetos do banheiro sobre as aldeias para provocar aquela reação aí pousavam de inocentes e que os índios eram primitivos. Vamos contar que os pregadores no passado os colocavam de castigo, atingindo sua moral e sua pele por falarem em sua língua nativa, por cantarem e realizarem seus rituais, por andarem com suas vestes. Vamos contar a verdade que homens brancos estupravam crianças e mulheres e não eram condenados... De pessoas usurparem seus direitos para mantê-los escravos. Homens sem conhecimento das causas e necessidades indígenas a tomarem conta da FUNAI. Que enganavam os índios depois de embebedá-los... Que expulsaram eles cada vez mais até os reduzirem a quase um nada do que já foram...

São sempre 19 dias de pensamentos voltados a esta grande nação dona real deste Brasil e muitos outros de pleno esquecimento, de fingimentos e omissões. O índio ainda vai ser apenas uma atividade de ambiente escolar? Ou vai ser uma razão de ser, de saber e de existir!