Pontos de Vista

Pontos de Vista

Ana Esther

Em algum lugar não muito distante, num festival de rua...

HOMEM: Oh, meu Deus! Espero que nenhum amigo me veja nesta situação ridícula, vestido deste jeito. A que ponto cheguei!

MULHER: Nossa, que festa linda! Que sorte eu tive de ser selecionada para ser a Rainha Vermelha neste desfile.

HOMEM: Se não fosse o dinheiro que vou ganhar... ter que ficar sorrindo para essa gentarada, abraçar criancinha, paparicar os pais das criancinhas, até pareço um político.

MULHER: Não vejo a hora que a Aninha e a turma cheguem para me ver e torcer por mim. Vão adorar. E pensar que eu ainda serei paga para vir aqui e me divertir deste jeito, isto é que é vida!

HOMEM: Mas e o que parece esta deslumbrada ao meu lado!? Já é difícil passar por este papelão... pior é ter que agüentar esta mulher ridícula que parece estar adorando tudo. Não percebe como estamos sendo objetos de riso...

MULHER: Que felicidade, poder esquecer as agruras da vida por uns momentos e curtir adoidada uma loucura como esta festa. Tomara que a Aninha lembre de trazer a máquina fotográfica. Quero ter muitas fotos para mostrar para os meus amigos todos!

HOMEM: Ai, quanto tempo falta para o fim desta tortura?

MULHER: Ainda bem que a festa recém começou, quero curtir ao máximo. Ah, que amor, meu bem, queres uma foto com a Rainha Vermelha? Claro, podes tirar. Tchau!!!

HOMEM: Credo, a doidona parece gostar do que está fazendo. Tem louco pra tudo...

Três anos depois.

HOMEM: Continua fazendo bicos para complementar sua renda.

MULHER: Está feliz da vida comemorando um ano de sua carreira como atriz. Descobriu inclusive novos talentos que nem sonhava possuir.

*Esta crônica apareceu no jornal literário Letras Santiaguenses Ano XI - No. 73 Janeiro/Fevereiro 2008 (Santiago, RS) na pág. 03.

Ana Esther
Enviado por Ana Esther em 19/04/2008
Reeditado em 20/04/2008
Código do texto: T953109