"Caso Isabella. Foi o Porteiro?" =Crônica Indignada=

O caso Isabella já está enchendo o saco. Dureza? Grosseria de minha parte? Insensibilidade minha? Nada disso. É a verdade nua e crua. Depois do caso João Hélio, quando a crueldade foi muito maior e mais prolongada, as emissoras de tevê perceberam que assassinatos de crianças da classe média rendem audiência e passaram a faturar em cima do assunto. Se não é isso, porquê então o “Fantástico” dividiu a entrevista em duas partes? Pura e simplesmente para faturar mais e mais depressa. O Datena, Datena, Datena, fez intervalos, intervalos, intervalos, para repetir, repetir, repetir fatos mais que repisados no assunto. Motivo? Publicidade daquela maravilhosa câmera que filma, fotografa, grava, tira a pressão, faz sanduíches, serve cafezinho, baixa músicas, permite oitocentos minutos de gravação de voz e custa apenas trezentas prestações de não sei quantos reais financiadas pelo Banco do Brasil.

As outras emissoras perceberam o potencial financeiro e acompanharam a líder de audiência. Querem também faturar em cima e ficam repetindo o dia todo o caso como se realmente houvesse alguma novidade. Não existem novidades. Eles fingem que tem pra render o assunto o máximo possível e faturar em cima do pobre cadaverzinho.

Se Isabella fosse uma negrinha favelada, uma pobre coitadinha da classe D, o assunto nem ao menos teria sido noticiado na tevê. Ou teria sido mencionado “au passant” se sobrasse um minuto vago em algum noticiário. Mas ela, Isabella, era neta de um advogado. Era filha de um classe média. Era enteada de uma moça da classe média. Por isso o potencial dela é bom para a exploração da tevê. Por isso o potencial dela é bom pra render muito assunto e conseguir boa audiência. Afinal de contas o Brasil é quase todo habitado por gente da classe média. Por isso as tevês estão fingindo, de comum acordo, que esse é um caso misterioso. Um caso que exige um Hercules Poirot da Agatha Christie para deslindá-lo. Tudo em nome do faturamento. Desavergonhadamente. Ou será Isabella Nardonni a única criança assassinada em nosso país nos últimos trinta dias?

Daqui a pouco descobrirão que o porteiro do prédio, na falta do mordomo, foi o culpado. Ele terá visto, pelo circuito interno, que Alexandre Nardonni deixou a filha sozinha, foi até a garagem buscar o restante de sua enorme família, calculou que daria tempo de se divertir, arrombou a porta do apartamento, matou a menina por sufocamento, jogou-a da janela do sexto andar e voltou correndo para a portaria com cara de inocente.

Como qualquer pai, como qualquer avô, da mesma maneira que qualquer pessoa que tenha sensibilidade-e que saiba dar o devido valor à vida humana-senti imensamente o assassinato da infeliz garotinha, da indefesa menina, mas, sinceramente, acho que as tevês ainda não se tocaram que já ultrapassaram todos os limites da paciência humana. Pela manhã, à tarde, à noite, o assunto é Isabella. E o terceiro mandato de Lula? Será que enquanto isso ele não está sendo engendrado lá no covil dos..., digo, lá no Senado?

Tal tática já era usada pelos Césares há muitos séculos atrás.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 22/04/2008
Código do texto: T956436
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.