O QUE DEFINE AMIZADE?

Esse era um questionamento que me fiz por uma semana inteira. O que nos torna um bom amigo? Seria aquela pessoa que sempre está do seu lado? Pronta para ceder seu tempo e seus ouvidos? Ou aquele que lhe empresta um bom dinheiro quando você se encontra num aperto?

E o que torna amigos em inimigos? Traições? Falsidade, falta de diálogo? Tudo isso me parecia muito distante, muito raso. Porque estamos lidando com pessoas, e dentro de cada uma cada milhões de possibilidades, trilhões de atitudes e ações, que nem sempre são bem pensadas.

Eu sempre me considerei um bom amigo, do tipo cão fiel que sempre estava do lado. Mas confesso que já me odiei por ser assim... porque acreditava que podia cobrar dos outros alguma coisa parecida, o que é impossível e injusto. Porque cada um dá o que tem.

Há alguns anos atrás, numa balada qualquer, eu e Caipirinha. – uma amizade – resolvemos curtir a noite, e começamos a beber, a beber, até perder a noção de tempo e espaço.

Eu ainda tonto e fraco, tentava acudir minha amizade, que desmaiava no sofá da boate e logo se recuperou, voltando à consciência. Porém, quando eu precisei de sua amizade, não a tive. Caipirinha com algumas conhecidas me deixou na rodoviária, mal, bêbado, em ataque de pânico, e seguiram rumo à suas casas.

Eu fiquei por lá, até meu pai chegar ao meu encontro e me levar para o pronto-socorro. Após esse episódio triste e lamentável, acrescentei à minha vida que nunca mais iria me colocar naquele estado lamentável, vulnerável, pois infelizmente não podia colocar minha vida, minha saúde na mão de outra pessoa a não ser eu mesmo. Confesso que descobrindo isso, me pus muito magoado com toda situação, e precisei de um tempo até a ferida cicatrizar. Mas agora eu estava ótimo, mais maduro, sábio, e naquele erro eu não cairia mais.

Porém, Caipirinha novamente caíra... estávamos todos na boate nos divertindo, eu, Capirinha, Michael, sua irmã e suas amigas.... era noite de bebida liberada. E todos sem exceção viraram sem dó. Caipirinha sempre muito intensa acabou virando mais o que podia (novamente). E entre uma iluminação e outra, o vi tombando para um lado. E como num filme, me vi sozinho na rodoviária, sendo deixado para trás.

Era estranho, pois dentro de mim, em nenhum segundo pensei em não socorrer, não era da minha natureza, eu não me sentiria bem. E independentemente de sua atitude a minha jamais iria mudar. Segurei em seus braços e a levei para o canto, aonde ele pode colocar tudo para fora, e se livrar daquela doideira que devia estar sua cabeça. Logo depois Michael se aproximou e ficamos os dois ao seu lado, até ter certeza que ele estava bem. Caipirinha logicamente se recuperaria daquele porre logo mais...

E eu pude ter a certeza que eu realmente era um bom amigo. Porque amizade é isso, acontece dentro de nós, e não depende de ninguém, de ações ou palavras. Sentimos ou não.

E pela primeira vez não me arrependi de ser um amigo tipo cão, aliás eu os adoro, e realmente são ótimos amigos. Caipirinha tinha sorte de ter a minha amizade, mas isso não dependia dela, apenas de mim.