TEATRO JOÃO CAETANO

TUDO PELO BRASIL...

Nelson Marzullo Tangerini

Em 1933, os parisienses Nestor Tangerini e Leitão Leitão escrevem juntos a peça Tudo Pelo Brasil, “Sensacional revista em 2 atos atos, com maravilhosa música de Jeronymo Cabral, números de Sá Pereira, Jota Machado e Milton Amaral”.

Encenada no Teatro João Caetano daquele ano, pela Empresa Nacional de Teatro Limitada e dirigida por João de Deus, tem como maestros Jeronymo Cabral e J. Aymberê.

No elenco de Tudo Pelo Brasil, Ítala Ferreira, Luiz Fonseca, Nair Alves, Lisette Cisnes, Irene Ferreira, Maria Isabel, Antonieta Fonseca, Manoelino Teixeira, Affonso Stuart, J. Figueiredo, Arnaldo Cotinho, Ildefonso Norat, Oscar Cardona, Arthur Castro, º Aranha e os “bailarinos excêntricos” Gualter Silva e Ondina Santanna.

Os esquetes de Tudo Pelo Brasil estão todos perdidos. Talvez o Arquivo Nacional tenha guardado os originais da dupla, uma vez que todo o material que estava guardado na Censura Federal foi enviado para a entidade.

Um rápido esquete da revista, porém, ficou arquivado na memória de amigos de Tangerini e Leitão – esquete, aliás, que tem aparecido na televisão brasileira como sendo de outros autores:

Um casal estava sentado no sofá da sala. Ele lia o jornal; ela se dedicava aos bordados. Em dado momento, entra a sogra do rapaz, vindo de um outro cômodo para a sala. O relógio, um cuco, que estava na parede, sobre a porta, desprende-se e vem ao chão. Passa raspando na cabeça da velha, que por pouco, não desencarna.

A filha, assustada, grita:

- Meu bem, o relógio quase cai na cabeça de mamãe.

Sem tirar os olhos do jornal, o marido responde:

- Este relógio anda sempre atrasado.

Tudo Pelo Brasil, enfim, faz grande sucesso na Capital Federal e merece favoráveis comentários da imprensa carioca:

Jornal do Brasil:

A estréia ontem no João Caetano, da Cia. Nacional de Revistas e Peças musicadas admite felizes augúrios, bons prognósticos. “TUDO PELO BRASIL” foi vazada nos moldes da revista moderna. Há humor e apuro de forma. Os números de fantasia bonitos, particularmente os 2 finais de atos. Bonitos e variados cenários, vistosos efeitos de luz e música acentuadamente brasileira.

Correio da Manhã:

“TUDO PELO BRASIL”, revista que estreou ontem no Teatro João Caetano, tem bonita montagem e música alegre e viva. “TUDO PELO BRASIL” está marcada com gosto, merecendo as melhores referências o final do 1o. ato, de grande efeito.

Jornal do Comércio:

... é um elenco variado, bem equilibrado. Os atores da revista “TUDO PELO BRASIL”, Srs. N. Tangerini e Luiz Leitão, ambos com larga experiência no gênero, fizeram agora obra bem melhor que de qualquer das outras vezes. Tudo se desenvolve com felicidade por entre as risadas e os aplausos da sala.

A Noite:

Aí está uma boa companhia de revista, com todos os elementos de vitória: a Companhia João Caetano, com a revista “TUDO PELO BRASIL”. O que se pode exigir numa revista moderna, encontra-se na peça que vem de reabrir o elegante Teatro da Prefeitura. Montagem muito bem cuidada, música agradável. Esquetes espirituosos. A platéia do João Caetano estava repleta e o público dava mostras constantes do seu agrado. A iniciativa do João Caetano merece ser prestigiada pelo público. É realmente coisa boa o que vem de ser, ali, inaugurado.

Diário da Noite:

... o original “TUDO PELO BRASIL” foi uma estréia auspiciosa. Dois bailarinos excêntricos muito aplaudidos. No corpo de “girls” há lindos palminhos de cara, o que se impõe em revista. Cenários bonitos.

A Hora:

... porque “TUDO PELO BRASIL” é um espetáculo magnífico não só para o espírito, como para as vistas. É uma peça que merece a atenção dos que apreciam o bom Teatro e mui principalmente pelas famílias. “TUDO PELO BRASIL” está muito bem vestida, em seus cenários e guarda roupas, com música expressiva, incluindo sambas modernos. Representação alinhada com justeza e disciplina. Merece especial destaque o corpo de “girls”. A parte cênica, bem defendida. Boas marcações feitas por João de Deus. O público deve ir assistir a “TUDO PELO BRASIL”.

Há também graça – delicadeza e elegância - no folheto propaganda da revista da dupla parisiense, que também tem dois sonetos satíricos da dupla: Ano Bom, de Tangerini, e Elas... [do livro Vida Apertada, de 1926], de Lili Leitão:

“HOJE, AMANHÃ E TODAS AS NOITES

Theatro João Caetano

Duas sessões, às 20 e às 22 horas

“Tudo Pelo Brasil”

BOA GRAÇA – ESPÍRITO FINO – GRANDE MONTAGEM

- LINDO GUARDA ROUPA –

PREÇOS POPULARES

Frisa .................................................................................27$500

Camarote ..........................................................................27$500

Poltronas ........................................................................... 5$500

Balcão ............................................................................... 3$300

Galeria numerada ................................................................ 2$200

AOS SÁBADOS

Vesperal da primavera, às 16 horas com farta

distribuição de caramelos BUSI.

PREÇOS REDUZIDOS

Poltronas...............................................................................3$000

[incluído o selo]”

Nelson Marzullo Tangerini, 52 anos, é escritor, jornalista, poeta, compositor, fotógrafo e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba [ clube.escritores@uol.com.br ], onde ocupa a Cadeira 073 – Nestor Tangerini.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 24/04/2008
Código do texto: T960532