PASSEIO PELO CEMITÉRIO

O cemitério deveria ser considerado uma instituição, ou seja, um local que podemos classificar como didático.

Você deve estar se perguntando: Por quê?

Eu respondo, como quem gosta de observar o que acontece ao seu redor:

É porque cada túmulo é um arquivo: um compartimento que pode até ser coletivo, mas, para quem desce derradeiramente nele, fica ali registrado o fim de uma passagem, de uma vida, e... onde eu quero chegar... de uma história.

Cada pessoa ali viveu ou quase viveu uma história. Muitas, uma história boa, outras tiveram histórias ruins, e têm aquelas que nem chegaram a ter uma história sequer.

Quando você passa olhando as lápides, você vê a inscrição dos nomes, porém têm aqueles que não foram nem inscritos. Por outro lado, existem aquelas monumentais e arquitetônicas, como também outras simples e violadas, muitas até sujas pelo desrespeito dos pichadores, que um dia, certamente, estarão ali, e assim por diante.

Bem... numa das visitinhas, que de vez em quando fazia ao túmulo de meu dois pais (sendo um biológico e o outro que me criou), passeando entre as lápides, comecei a observá-las, pensando:

“Quem será este? Foi ele um engenheiro? Ou um simples faxineiro?

E aquele? Foi um médico? Ou um simples coveiro?

E ainda aquele outro? Teria sido um professor? Ou uma inocente criança que nem chegou a desmamar?”

Entretanto, a morte transforma-nos como sendo todos iguais, equiparação esta sem parcialidade, quer sejamos ricos, pobres, fracos, poderosos, bonitos, feios, enfim... somos iguais perante todos!

E continuando eu a análise introspectiva:

“Por que será que existe tanta ganância neste mundo, se, no final, igualmente somos reduzidos a nada, ou, para os mais otimistas, ao pó?”

Pois é, apesar do grande conhecimento histórico e científico, o espiritual o homem ainda não compreendeu.

Esse pensamento fica muito patente na inscrição das lápides. Uma estrelinha significa o nascimento, e uma cruz, o dia de sua morte. O tracinho entre as duas demarcações significa o tempo decorrente da vida da pessoa sepultada ali. Mas... só um tracinho?! Nossa vida equacionada a um simples tracinho?! E olha que todos os traços demarcados nas lápides eram iguais em tamanho, demonstrando, até de forma bastante simplificada, que nossa vida é apenas uma pequena, rápida e momentânea passagem.

No entanto, para quem, como eu, que acredita na condição consciencial do espírito, mesmo depois da morte do corpo físico, fica a esperança desse traço ser, na vida do porvir, infinitamente longo.

Embora tendo a consciência da seriedade do assunto, lembrei-me, rindo, de meu tio, o qual dizia que, quando ia a algum velório e via as carpideiras e a viúva falarem:

“É... ele descansou!”

Meu tio retrucava:

“Se isso é descansar, eu prefiro viver cansado!”

Por ironia do destino, esse meu tio já há muito descansou. E descansou mesmo!

Bom... resolvi ir embora e, saindo do lugar santo, notei certa inscrição numa lápide, a qual me chamou a atenção. Dizia assim:

“Nós que aqui estamos, por vós esperamos.”

Pensei, em seguida, com a velocidade de um relâmpago:

“Por mim, não me levem a mal, espero que vocês fiquem muito, mas muuuuuuuuito tempo mesmo me esperando!!!”