O CAVALO ENCILHADO

No sul, se diz, quando surge uma boa oportunidade, “se o cavalo passar encilhado na minha frente, eu monto”. Coisa de quem tem o cavalo como parceiro nas lides campeiras, frase atribuída a Getúlio Vargas, gaúcho de São Borja, presidente brasileiro na marra e no voto, autor de um ato suicida muito festejado, “deixo a vida para entrar na história”.

Um dia desses, passando por um grupo de alunos, um deles comentava, “acho que vou abandonar este curso”. Com a maior naturalidade. Abandonar o curso superior em universidades públicas no Brasil é muito mais comum do que são capazes de pensar ou sonhar as pessoas que a duras penas fazem seus cursos em universidades privadas.

O número de estudantes que se formam nestas universidades caiu quase 10% nos últimos dois anos, apontam dados do Ministério da Educação. Apesar disso, o número de ingressantes está em elevação desde a década passada. Esta queda ocorre devido ao aumento da evasão escolar e ao tempo que os estudantes têm levado para se formar. O Censo da Educação Superior, divulgado em dezembro de 2007, mostra que 19.177 estudantes a menos se formaram nas universidades públicas em 2006 do que em 2004.

O que a sociedade entende por corrupção ou por desperdício do dinheiro público? Vejamos, quando alguém abandona um curso, seja ele qual for, bancado pelo Estado, isto é um desperdício de dinheiro público. Quando é reprovado, também. E o mau uso do dinheiro público não é entendido por corrupção? Bem, a crônica não tem a intenção de falar de ética.

Todos nós queremos ganhar na loteria, até mesmo uns que nem eu, que nunca jogo. Ser aprovado numa universidade pública é como ganhar na loteria. Um curso superior custa quarenta mil, oitenta mil, cem mil reais, e tem uns que chegam perto dos duzentos. Loteria ao alcance do que for mais determinado, ainda que tenha recursos para um pré-vestibular qualificado. Muitos jovens nem se habilitam a participar do processo seletivo ou participam para registrar presença.

Deixar o cavalo passar encilhado me fez lembrar do Apolinário. Era mais velho, mais abonado e embora não chegasse a ser um raro exemplar da espécie, era bonitinho. Pegador, conforme se autoproclamava, e nem precisava fazer muito esforço.

Aparentemente pegava muitas, de todo padrão, e falava muito também. Um dia topou, inesperadamente, com uma miss. Areia demais para o caminhãozinho dele. Fenomenal! Era o dia da sua sorte. A miss era ligeira e menos de uma hora depois estavam no apartamento dela, meia noite, quem sabe um pouco mais. Cansado, bem que poderia ter aparecido outro dia, deitou, a moça o deixou por segundos esperando, e dormiu.

Acordou atrasado na manhã seguinte, vestiu-se rapidamente, mal passou uma água no rosto, chegou perto do ouvido da jovem, que parecia dormir, e disse:

- A gente se vê.

Ao que a moça, meio num resmungo, respondeu:

- Pra quê?