SELARAM TEU AR

Na calada da noite, o açoite... o término de uma história que começara há pouco. Uma história findada de forma abrupta e silênciosa... dolorosa. Onde em milésimos de tempo do infinito espaço, cruzam-se os braços... onde sem vontade de amar, não existe mais nada... Selaram teu ar!

E já sem ar... tu não pode respirar! Selaram teu ar enquanto ainda era pequena criança; enquanto ainda pensava como criança, sorria como criança, brincava como criança e, cristalinamente, só queria ser feliz; como necessariamente precisa ser feliz toda a criança.

E que dor cabe aos homens nesse momento (?) ... Que dor choram tantos corações nesse milésimo de segundo de infinito sofrimento! Selaram teu ar mas lançaram-te andares baixo. Melhor seria justificar o fim pela queda do que pela asfixia. Mais fácil explicar que se morre pela queda do que pelo sufocamento. Melhor conviver eternamente com o menor tormento... mesmo sabendo que o mesmo dar-vos-á o mesmo sofrimento.

E de fato, acho que nunca saberão realmente explicar como gente adulta consegue agir assim, de forma tão cruel e tão estúpida. Não existe explicação plausível para que façam o que sempre achavam impossível. Sabendo que o teu ar não custava nada, como também não custava nada para tantas outras crianças silenciadas pela violência. Sabendo que a dor que sofrem por ti, sofrem e sofrerão por tantas outras vitimas infantis que inexplicavelmente tiveram sua história selada.

Nessa nossa quimera... hoje são Isabelas. Mas também - ontem e hoje - são Joãos, são Josés... são Marias. De manhã até o fim do dia. São diáriamente vítimas de uma violência inexplicável e fria. A violência inexplicável da vida adulta, encenada grotescamente por motivos fúteis e torpes... motivos de ódio e de morte. A dramaticidade de atos covardes... encenados com as nuances da frieza humana... a frieza que causa essa eterna dor estúpida; dor de angústia... de revolta e, principalmente, de interrogação por atos de tamanha barbárie.

E na esteira dos acontecimentos, no decorrer do tempo... serão vitimas do esquecimento... simplesmente porque todos acabam um dia se esquecendo. Cabendo aos homens julgar os homens. Mas cabendo a Deus julgar todos os assassinos!

Adriano Hungarô
Enviado por Adriano Hungarô em 28/04/2008
Código do texto: T965505
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.