INSEPARÁVEIS

Desde pequenas as duas estavam sempre juntas. Onde a Marcela ia, lá estava a Mariana. No carrossel dava briga para saber quem ia sentar no cavalinho rosa e quem ficaria com o azul. No escorregador, a briga era pra saber quem descia na frente. E no jogo das argolas, pra saber quem lançaria a argola primeiro. Mas apesar das brigas, as duas eram inseparáveis.

- Marcela, vai pro banho!

Lá iam as duas pro banheiro.

- Mariana, arruma sua cama, menina!

E lá estava a Marcela ajudando com o trabalho pesado. Não havia o que separasse as duas. Eram como unha e carne.

Na escola a professora tinha dificuldades para não deixar as duas colarem. Na fila da cantina sempre tinha alguém reclamando que uma das duas estavam furando fila. E nas aulas de educação física, o time delas sempre jogava com uma atleta a mais.

O tempo passou, Marcela e Mariana cresceram e veio a primeira menstruação. Claro, no mesmo dia. Começaram a crescer os peitinhos e o corpo das meninas começava a ganhar formas do corpo de uma mulher. E que mulher.

Como todos os alunos do colégio, as duas também fizeram cursinho para entrar na faculdade. Escolheram o mesmo curso e estudaram muito, sempre juntas. Quando saíram as primeiras listas de aprovados, os gritos vindo da casa delas eram muito mais altos. Afinal, de tanto estudar as mesmas matérias incansavelmente, as duas fizeram a mesma pontuação na prova do vestibular. Foram aprovadas com louvor, em primeiro lugar.

Dona Adriana, a mãe das meninas, quase teve um treco quando ficou sabendo que a faculdade era em outra cidade. Refeita do susto, não teve dúvidas: alugou um apartamento perto do campus para que as filhas dividissem.

Passada a fase dos trotes, veio a primeira festa universitária que elas participariam. Seria na casa do Albertinho, aquele veterano que as duas morriam de amores. Marcela e Mariana se produziram, passaram batom, fizeram maquiagem, colocaram um vestido provocante e foram para a festa.

Experiente, o rapaz aproveitou o descuido de Mariana, que dormia no sofá ao lado da irmã depois de beber mais que o devido, e deu logo um beijo na outra. No meio de todo aquele romantismo, mão aqui, mão ali, a menina que parecia desmaiada acordou. Aquilo não poderia ser verdade. A irmã não poderia ser tão insensível com o seu pobre coração apaixonada. Mariana então não teve dúvidas: partiu para a ignorância.

Aí foi soco, chute, tapa e pontapé para tudo quanto é lado. Puxa cabelo daqui, morde dali e quando se viu, as duas estavam praticamente nuas. O Albertinho até tentou separar, mas viu que seria impossível. E depois de tanto apanhar no meio daquela terrível briga das duas irmãs, ele teve a certeza de que nunca mais tentaria namorar uma gêmea siamesa.