O ZÉ TÁ DE VOLTA..., parte 1

“A boa educação começa em casa, na família”, já dizia minha avó. Estranho é o fato dela ter sido analfabeta, ter nascido e vivido na zona rural e quase nunca ter ido à cidade. Como pensar em educação em tais condições?

Talvez, o que temos que distinguir é de qual educação estamos falando. Minha avó se referia aos princípios de moral, justiça, respeito ao próximo e às coisas que do próximo são. Ética acima de tudo! Ah! O tempo do fio de bigode ser garantia de palavra dita e cumprida. Pena que ela conhecia tão pouco da outra educação!

A educação, hoje apregoada aos quatro ventos, também possui facetas diferentes. Podemos pensar nela como acúmulo de conhecimentos e informações úteis à formação profissional, com princípio, meio e fim. Princípio é o processo de alfabetização generalizada indo até o ensino médio. Meio é a continuidade do processo de ensino, mas com conteúdos diretivos a cada área profissional desejada, os cursos superiores. Fim é o desempenho profissional propriamente dito, onde a reciclagem e os estudos periféricos são de fundamental importância. A isto podemos chamar de processo educativo formal. Não há como esquecer que tão importante quanto este processo formal é a formação informal. Falaremos dos dois modos.

Aparentemente, tudo parece muito simples, de fácil definição. Onde estão as causas de termos no Brasil um nível de analfabetismo tão alto, escolaridade baixa, formação de qualidade duvidosa? Vão logo dizer que a culpa é do governo. Adivinhei! O governo constrói escolas, define diretrizes básicas de ensino e paga as contas e os salários do sistema público. Neste ponto surge a primeira dúvida. Quem realmente ensina?

O processo de aprendizagem, claro, é muito complexo para ser mapeado em duas palavras, mas já sabemos que, no mínimo, precisa haver troca de experiências entre mestre e aluno em caráter descendente, num processo formal. O mestre ensina, o aluno aprende!

Podemos até dizer que o aluno de hoje será o mestre de amanhã, mas por enquanto é aluno. Então pouca responsabilidade poderia ser atribuída aos governos quanto a este aspecto. Quem está na sala de aula representando o poder concedente é o professor que deve fazer sua tarefa de ensinar, como preposto que é.

A maioria prefere sempre olhar de fora para dentro, como se não tivesse nada com a qualidade do ensino oferecido. Ora, quem ensina o faz dentro de um programa pré-estabelecido, mas dentro do espaço de aula, sua autonomia exime o governo de culpa. O professor tem que se preparar através de estudos, aperfeiçoamentos, qualificações e outros, como em qualquer área profissional, pois é ele o responsável direto pela tarefa de ensinar. O governo tem suas atribuições, mas certamente sua tarefa primordial não está na sala de aula.

Se não fosse assim, como ficariam os lindos casos isolados de escolas e mestres, pelo interior a fora, que fazem seu serviço com dignidade, muitas vezes tendo que caminhar léguas à pé para chegar aos alunos, sem poder reivindicar nem vale transporte que não há?

Se cada parte envolvida executa sua tarefa com servidão, não haverá porque tanto jogo de empurra no processo formal de ensino.

Claro, o governo tem sua responsabilidade, mas dizer que a qualidade cai por isso é deixar de ser ético e justo, tirar o corpo fora e não querer que nada se resolva. Tudo que tem que ser resolvido só pode ser feito por pessoas. Quando falamos em governo, na educação, estamos falando também de professores e funcionários envolvidos.

Não sei se sou a pessoa mais indicada para falar desse e de vários outros assuntos, pois sou um ilustre desconhecido, mas tenho ousadia de pensar com liberdade e refletir sobre temas que estão engasgados em muitas gargantas. Tudo que ouvimos e vemos no Brasil e no mundo a respeito dos fatos que norteiam nossa vida, o fazemos pela visão de pessoas ilustres conhecidas, quer seja do meio empresarial, acadêmico ou artístico, como se o povo não tivesse opinião, ou não soubesse o que quer.

Nestas condições, as opiniões são formadas à partir de uma realidade diferente da verdade em que o povo, ilustre desconhecido, vive.

Continua...