MEDO DE BARATA

Tenho medo de barata! Ufa, finalmente contei, revelei, consegui. Meu terapeuta vai ficar orgulhoso, meus amigos vão rir e fazer piadas pelas minhas próximas cinco vidas.

Mulher com nojo de barata, até ai tudo bem, mas homem? Fala sério! Sim, eu falo seríssimo, mas complemento não é medo assim como ter medo de ser assaltado, sequestrado ou perder a namorada ou o emprego - é fobia! Nojo da pior forma. Repulsa crônica causada por trauma. Eu explico, quem sabe os caras param de dar risada.

Eu tinha quatro anos. Lembro bem, pois foi no dia que meu irmão mais novo nasceu. Era Janeiro de 1977, meus pais, deixaram eu e meu irmão mais velho na casa da vizinha, que era amiga da minha mãe e tinha 4 filhos que constumavam jogar bola com a gente. Naquela epóca era natural, brincar na rua. Não existia perigo eminente de sequestro, traficante ou pedofilia; e o único perigo que corríamos era sermos pegos pelo "homem do saco" que diziam nossos pais, roubava as crianças que eram desobedientes.

Não sei onde meu irmão estava, mas lembro que jogava futebol com a molecada da vizinha, quando o mais velho dos moleques, chutou a bola para longe do campo e a bola caiu dentro de um bueiro de esgoto. Adivinha quem teria que pegar a bola? Ninguém queria ir e depois descobri o porquê. A tampa do bueiro estava aberta e eu pude ver a bola presa na lama. Comecei a descer por uma escada, mas a vontade que tinha era de vomitar com o cheiro forte de esgoto e excrementos. Desci o mais rápido que pude e ao pisar no chão, senti que estava com os pés numa gosma que lembrava lama. Ignorei a sensação, peguei a bola e voltei para a escada.

- Joga a bola! - os meninos gritava lá em cima. Mas antes que eu pudesse fazer isso, comecei a notar um movimento nas paredes e no teto do bueiro. Estava tudo semi-escuro, mas pela luz que vinha de cima, eu pude ver que não estava sozinho. Nem precisava ser um expert em insetos, para reconhecer que aquele lugar estava infestado com baratas. Eu não sabia se elas eram baratas geneticamente modificadas para aterrorizar humanos, mas elas avançaram em cima de mim.

- Baratas! Baratas! - comecei a gritar, enquanto elas subiam pelo meu short, por minha camisa e entravam pelo meu cabelo.

Estranho como o tempo de vez em quando, dá um salto. Nunca consegui entender bem, como em um instante, eu estava coberto de baratas e em outro, eu estava limpinho, deitado numa cama, dentro da casa da vizinha. Teria sido apenas um pesadelo?

- Ele vai ficar bem! - disse uma voz estranha, conversando com a vizinha. Era um homem e como se vestia de branco, ou era um anjo ou um médico - Sirva um leite quente e em hipotése alguma mencione o que ocorreu com el...

A vizinha fechou a porta e as vozes foram diminuindo, até que os quatro moleques entraram no quarto gritando:

- Neguinho das baratas! Neguinho das baratas!

As crianças conseguem ser mais cruéis que os adultos e certos traumas podem criar fobias que duram por anos e as vezes, pela vida inteira. Cada pessoa com seus medos, fobias e por mais que possa parecer um medo bobo para vocês, como perceberam, tenho meus motivos para evitar cruzar o mesmo caminho que as cucarachas. E vocês, sejam honestos, têm medo do quê?

Frank Oliveira

http://cronicasdofrank.blogspot.com/