Olhos de uma mulher em um jogo de futsal

A torcida vai chegando pouco a pouco e lota o ginásio. Os meninos que secam o chão são tão magros que parecem engolidos pelo uniforme verde limão. Sento-me na arquibancada, ocupada majoritariamente por homens, e vejo uma cachorrinha passando.

O jogo começa e começam os palavrões. Algumas mulheres quebram o gelo com seus sapatos lustrosos que contrastam com os tênis dos presentes. Uma parte da torcida dá ritmo ao jogo com tambores e gritos. E a cachorrinha senta bem em minha frente.

O cheiro de perfume masculino se misturava com o cheiro de cigarro. A cada lance que poderia preceder um gol todos se levantavam. “Uhhhh”. Não vi o gol que aconteceu na minha frente, como era do time adversário ao da casa, ninguém comemorou e o fato me passou despercebido, talvez por estar ocupada vendo se os atletas estavam em forma.

Jogadores correndo, escorregando, e os meninos de verde limão, felizes da vida, de bumbum pra cima, secando a quadra. Treinadores exaltados e a cachorrinha com uma cara de sono que dava dó. Seus olhinhos fechavam lentamente, ao contrário dos olhos dos torcedores que não piscavam um instante.

Subo até a cabine onde se dividiam em apertados espaços jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, de rádio, jornal, televisão e Internet. Eu era a única mulher no recinto. O pessoal da Internet era o mais atrapalhado. Cinegrafista que perde o gol da vitória do time da casa, repórter que fala alto demais atrapalhando o áudio do vídeo, o outro perguntando quantos tempos tem o jogo, pilha descarregada, câmera com fita durex, análises sobre o Paraguai... etc. etc.

O cheiro aqui é de churrasco e atiça a fome. Desci e perguntei ao técnico do time que perdeu como ele poderia avaliar a atuação da equipe! Fotos, outras entrevistas e a torcida vai embora feliz pela vitória e irritada com a arbitragem. Não sei bem ao certo, mas, mais tarde a cachorrinha com frio deve ter sido mandada embora, na chuva. E, antes que eu me esqueça, os atletas estavam ótima forma física.