ANTES DE PARTIR

Escolho bem os filmes que vejo, “Como se fosse a primeira vez”, “Dança comigo”, “Antes de partir” assisti na semana passada. Temas leves.

Em Antes de Partir, dois idosos, Jack Nicholson, 71, e Morgan Freeman, 70, sabendo que tem seis meses, um ano de vida, resolvem viver seus dias seguindo um roteiro que não inclui mas leva a uma amizade que começa e floresce entre ambos.

Esse negócio de partir anda me deixando algo incomodado. Sorte minha que um amigo, que completou sete décadas dias atrás, apareceu por aqui e me fez lembrar que certas coisas podem ficar piores. Antes de partir, ainda bem, a gente vê e ouve cada uma...

A expectativa de vida no nascimento do brasileiro é de 68,3 anos para os homens e 76,3 anos para as mulheres (estimativa 2007), mas devemos levar em consideração que a média baixa em razão da mortalidade na infância, na juventude em razão da violência e do trânsito, na meia idade, de ataque cardíaco. Estou um pouco pra lá da meia idade, mas na área de risco do ataque cardíaco. Um pouco de stress, a pressão insistindo em se manter bem pouco mais alta que o normal, e os amigos alentadores, “te cuida”, “pior é ficar torto”, “se morrer não é nada”.

Quem chega aos sessenta, pode pensar, sem susto, em chegar aos oitenta, até um pouco mais, com boa qualidade de vida. Se for mulher, noventa nem chega a ser otimismo, pelo menos aqui no sul.

Quando criança, um machucado, uma febre, qualquer coisa que a deixe abatidinha, sempre tem um para dizer, “quando casar sara”. Bem, pelo menos se dizia, já que muito pouca gente casa ou o conceito ficou sem importância, transitório, “agora estou casada”, dizia a Vilminha, que ficou solteira seis vezes nos últimos dois anos.

Aos noventa e uns, o Seu Wallace só queria o que ninguém desejava para ele, exceto os herdeiros, “quero morrer logo, meus amigos já morreram todos, vou ao encontro deles”. Encontrou-se com meu amigo, havia alguns anos que não se viam. O cabelo branco que este ostenta, desde muito jovem, sempre levou alguns desavisados a pensarem que é mais velho.

Meu pai também tinha cabelos brancos desde os trinta e poucos. Certa vez, nem tinha sessenta anos, um Wallace da vida encontrou com ele e disse, “Capitão, no nosso tempo,...”, exclamou:

- Morri!

Pois o Seu Wallace, de repente, num posto de combustíveis, ficou frente-a-frente com meu amigo, como se diante dele tivesse aparecido um fantasma, e sem a menor cerimônia ponderou emocionado:

- Tu ainda estás vivo?