VOU ME EMBORA

Gosto dessa sensação de vou-me-emborismo*. Amo pertencer a nenhum lugar; sou apaixonado pelo cheiro da estrada. Eu não caminho, eu transito.

Minha mãe me diz: filho, você vai acabar em lugar nenhum. Eu respondo: mãe, é justamente lá que quero chegar.

Já viajava quando nem me entendia por gente e jurei para mim mesmo, que enquanto ainda for gente ( vai que um dia eu acordo estrela), quero meu pé na estrada, junto com a minha parceira andarilha que Deus colocou do meu lado e os filhos ciganos que vão crescer orando para Iemanjá, Parvati e Santa Sara.

Dizem que não sou patriota. Como assim? Eu sou sim! Minha pátria é meu planeta. Só não esperem que eu seja brasileiro, cubano ou inglês, pois sou filho da terra e no meu quintal não existe fronteiras.

- Nacionalidade? - pergunta o oficial de imigração.

- Terráqueo! - respondo - Nasci na terra, nesse planetinha azul, onde os homens insistem em colocar cercas.

Como não sou passarinho preso em gaiola, vou voar para onde o vento me levar. Sou pássaro livre, menino mercúrio, correndo e voando na direção que eu quiser experimentar.

Adoro o Brasil, mas também gosto muito do Egito, da China que nunca visitei ( mas irei visitar), da Inglaterra que sempre vou estar. Sou e quero estar nos quatro cantos. Todo lugar tem uma lição para ensinar.

Nasci e fui criado como menino sem dinheiro para viajar, mas depois que fiquei grande, percebi, para se locomover, basta a força do tentar, do ousar e do acreditar.

Quando eu era moleque, me perguntavam na escola:

- O que você quer ser quando crescer, menino?

- Viajante - eu respondia.

- Nunca vi viajante ficar rico, guri!

- Ah, o senhor não sabe, mas os viajante são cheios de riquezas que o senhor sequer pode imaginar.

Não devo ter dito exatamente isso, mas foi algo parecido.

Uns querem ser astronautas, outros querem ser Marco Polo, por isso desde muito cedo, estou na estrada. Viajar é a minha sina e escrever é a melhor forma que tenho para agradecer ao Divino por me presentear com essa oportunidade e desde então, tudo o que experimento, vira escrito. Literatura pequena, prosa miúda, mas se cabe no seu coração, o que eu escrevo, tem o tamanho exato que eu quero alcançar.

Frank Oliveira

Um Paraíba Vagamundo

http://cronicasdofrank.blogspot.com/

Notas: vou-me-emborismo: jargão criado por Manoel Bandeira, o grande poeta e escritor brasileiro.