Um toque de sensibilidade

Onde estavam as mulheres enquanto os homens construíam as fálicas pirâmides do Egito, que “por séculos nos contemplam”, conforme Napoleão Bonaparte? Que faziam enquanto os homens carregavam pedras e se exauriam ao sol por seu soldo de pão e cerveja?

Que faziam as mulheres durante as constantes batalhas dos espartanos, criados para a guerra e para o heroísmo até as últimas conseqüências. Teciam? Esperavam o que sobrava dos abutres, ou se consolavam com o destino dos soldados?

Quem pode explicar seu papel na expectativa da volta dos Cruzados que lutavam pelo Cristianismo e por nada?

E as mulheres dos soldados de Gengis Khan, de Aníbal, de Átila, de Dário, das legiões romanas? Onde estavam?

Qual a tarefa das mulheres judias enquanto os maridos pintavam as soleiras das portas com sangue de cordeiro para que o Anjo da Morte ali não entrasse e visitasse apenas os lares egípcios? E as mulheres egípcias faziam o que, ao verem seus primogênitos levados por esse anjo?

Onde se escondiam as mulheres enquanto o sangue escorria e os homens se despedaçavam por ideais incompreendidos?

Onde estava a mulher do piloto que soltou a bomba sobre Hiroshima?

Esperavam em casa, educavam os filhos, curavam as feridas, seguiam as tropas na vã esperança de ser alívio, cuidavam do pouco que tinham, sacrificavam-se. Eram o bom senso, o equilíbrio, a sensibilidade, o contraponto à testosterona que sempre precisa ser provada. Eram a humildade da beleza, o carinho do curativo, o ombro-travesseiro, a palavra suave. Eram a garantia da continuidade da vida, ventre, proteção, sopro, afago, agasalho.

Com justiça lutaram para ser mais e provaram o que sempre já fora provado: que são mais capazes do que alguma vez os homens o foram. E tomaram nossos lugares e fizeram muito melhor.

Algumas se enganaram e passaram a nos imitar no que temos de pior: a rudeza, a falta de sensibilidade, a necessidade de ser obedecido, a insegurança que nos leva à intransigência. E essas acham que a racionalidade é a melhor qualidade, quando é a intuição que move a humanidade. Intuição, que é artigo raro nos homens e sobra nas mulheres.

Ainda bem que são apenas algumas. As outras sabem de sua força e ainda vão transformar o mundo, afinal, a Terra e a água são femininas.