As outras mães

Almoços em restaurantes superlotados, presentes, mensagens e choros sentimentais. A melhor mãe do mundo estará em todos os abraços, em todas as homenagens. No meio desse cenário, deixemos um pequeno espaço para as outras mães, as excluídas desse processo.

Qual o sentimento da mãe de um homem bomba, que aceita morrer em nome de uma causa e a família recebe alguns milhares de dólares por isso? Será que o dinheiro soldará os pedaços de seu coração? Sofrerá menos aquela que sabe que o filho está doente e à morte?

Quanta dor e desesperança sente a mãe cuja vida se esvai rapidamente, sabedora de que não verá sequer a juventude dos filhos! E ela precisa sorrir o sorriso dos fortes, porque é o que lhe pede o pouco de vida que lhe resta. Quanto desânimo e desespero o da mãe que dá todo seu amor e vê o filho procurar as emoções e a morte nas drogas, sem que ela consiga acreditar no que está acontece.

O que dizem os olhos da adolescente grávida, sem família, na rua? Bênção, estorvo ou castigo, o que carrega no ventre? Como bate seu coração frente às vitrines que lhe vendem sonhos de rainha?

Triste espera a da mãe cujo filho foi à guerra e ela não sabe se ele volta, e ele não volta; morre por uma razão qualquer que ninguém sabe direito qual é. Morre pela falta de razão. Heróica a espera da mãe grávida que descobre que o filho nascerá com problemas, e ela aguarda seu nascimento como quem aguarda o desabrochar de um botão, para doar-se inteira.

Que canção de ninar canta para suas lembranças a mãe esquecida pelos filhos e pela vida e que já nada espera, mas ainda anseia por uma volta, um afago, um “olá”? Que melodia embala o sono da prostituta, privada do convívio do filho e “premiada” com o convívio artificial dos homens?

Um prato de comida deve ser o presente que almeja a pobre mãe faminta e perdida, vítima da incompreensão e do jogo de xadrez dos poderosos. Talvez nem aceite o prato e prefira dá-lo ao filho, faminto igual a ela, mas ainda com um coração menor. Uma notícia, uma possibilidade, uma réstia de luz seria o melhor presente à mãe cujo filho desapareceu no tempo.

As outras mães, para quem um sorriso seria o melhor presente. Lembremo-nos delas. Um pensamento, um suspiro, uma oração. Não custa nada, e Deus não vai se chatear.