Para sempre

Ela é Deborah, o nome dele não lembro. Pouco mais de 20 anos, alegres, bonitos e inteligentes. Americanos, apaixonados, na fase mais idealista do amor, primeira vez no Brasil, primeira viagem juntos.

Chegam à noite e ele a convida a passear na praia. Lá pelas tantas, começa a mancar, mas disfarça. Ela não nota e continuam a caminhada até o local mais romântico que encontram. Ele tira o tênis e a meia, pede que noive com ele e a presenteia com o anel que escondera na meia para que ela não o visse e que, sacanamente, escorregou até a sola do pé, machucando-o durante a caminhada.

Contam a história entre risos e carinhos, ele enfatizando a dificuldade em disfarçar e ela a alegria da surpresa. Os sorrisos, os olhos, as atitudes, tudo neles é escandalosamente claro: estamos felizes.

Quem sabe tenha sido apenas um gesto nada excepcional, afinal, não foi o primeiro e oxalá não seja o último casal em que carinho e surpresa formam a receita de felicidade. Mas havia um outro ingrediente: a valorização. Ela fala dele com admiração, dando valor a cada palavra e ação; ele ressalta a alegria dela, seu charme, sua beleza, sua garra. O machucado no pé transforma-se num troféu que não o impede de jogar futebol, afinal essa foi a desculpa principal para sua vinda a nosso país. O anel no dedo, mais do que uma declaração de amor, é um compromisso de mútua dedicação, valorização e respeito.

Observando-os, aquele anjo metido que aparece a qualquer hora, sem sequer um resquício de educação, e que alguns chamam de inspiração, sopra: “Forever” (para sempre). E continua: “sand, sea, sky, sun” (areia, mar, céu, sol). No dia seguinte, monto um pequeno poema – “Forever”, é claro – e o presenteio a eles. Deborah manda-me um e-mail, em nome dos dois, agradecendo muito e dizendo que não apenas o amor deles, mas principalmente a lembrança do carinho recebido no Brasil, ficarão para sempre.

Fico tentado a mandar-lhes uma mensagem, perguntar como estão, se o “para sempre” ainda vale. Melhor não fazê-lo. Vai que as juras foram passageiras, produto da emoção do momento, e que já nem estejam juntos.

Prefiro-os na lembrança e na esperança de que o “vento sopre sábias palavras de confiança nos ouvidos de seus corações”, como lhes escrevi. Melhor assim.