Cósmica

Cósmica

Posted by Renato on May 9, '08 7:21 PM for everyone

O ser humano é o resultado da evolução da vida em um pequeno planeta rochoso próximo a uma estrela de pequeno porte, nos confins de uma das milhões de galáxias que compõe o universo visível. Para que existamos, uma série de eventos isolados e pouco comuns na natureza teve que ocorrer, de maneira combinada porém anárquica – desde a formação de planetas ao redor do Sol, passando pela aglomeração de poeira e lixo estelar atraída pela gravidade solar que deu origem à Terra, até a seqüência exata de mutações que impulsionou a evolução das espécies em direção a nós humanos. Sim, eu sou um evolucionista, apesar da fã de primeira hora da banda gospel da série “Greek”, a ultranerd “Darwin Lied”.

A moderna astronomia, impulsionada pela verdadeira revolução na obtenção de imagens do espaço que foi o telescópio órbita Hubble e por modernas técnicas imaginológicas não-óticas, tem demonstrado que, talvez, planetas não sejam assim tão incomuns: a cada dia descobrimos novos. E sim, não temo a noite porque amo as estrelas (como diria Carl Sagan em "Cosmos")

O verdadeiro problema é uma questão de paradigma: como buscar vida além da Terra sem usar nosso conhecimento prévio? Planetas que reúnam condições adequadas de temperatura, gravidade e atmosfera, ou melhor, que ofereçam as seqüências exatas de alternância entre essas condições, são ainda mais raros. Some-se quantidades minimamente necessárias de hidrogênio, oxigênio, nitrogênio e carbono, e entenderemos porque, para que se busque vida fora da Terra, não podemos apostar todas as nossas fichas em compostos orgânicos. Mercúrio e Vênus, “descascados” por uma sucessão de cataclismas e colisões, são planetas rochosos, estão próximos a uma estrela apropriada, e são inóspitos em demasia para nossas longas moléculas. Marte é uma possibilidade, assim como Io - uma lua de Júpiter - mas muito frios. É mister que sejam abertas novas linhas de pesquisa no campo da química inorgânica pura, no caminho aberto pelo uso do ciberespaço para moldar a arquitetura molecular, com o intuito de elaborar, ao menos a nível teórico, uma teoria da vida sem carbono. É claro que eu acredito na Ciência, no poder do laboratório e do computador.

Já se disse que Deus não joga dados, Já se disse que Ele os joga. Como homem de fé, não creio que o Supremo se desse ao trabalho de criar um Cosmo com tamanho detalhamento e riqueza, baseado em criteriosas e randômicas leis físico-químicas, para depois subvertê-lo “a seu favor” – seria como terminar uma obra prima em escultura somente para vergá-la, quebrá-la ou amassá-la. Por isso convivem tão bem, dentro de minha cabeça, um Deus criador e personalista, o Big Bang e a evolução das espécies. Dentro da sopa primordial, uma centelha inicial. Dentro da cabeça do primeiro homem, a centelha da consciência. A árvore do mal é a árvore do conhecimento. Mutações aleatórias na estrutura gênica (carbônica, poeira de estrelas) dos seres vivos ao longo das eras, na Terra, causadas pela radiação cósmica originada na tanatogênese estelar, nos levaram ao animal-pensante-homem e não ao animal-pensante-dino, por exemplo, numa prova cabal de que, escrito nas estrelas ou lance de dados, o plano perfeito recebeu influências das mais diversas e não abriu mão da coerência científica. É, eu acredito em um Deus que ama os cientistas e os convida a entender.

Por isso tudo duvido muito quando encaro simplificações baratas, sejam elas do tipo “está tudo na cabeça da gente” (pensamento positivo, programação neurolinguística, segredos variados, etc) ou “está tudo lá fora” (doutrinas, dogmas e afins). Acredito no bom senso, na mistura entre a razão pura baseada na observaçao e o misticismo que nasce quando não conseguimos entender. Mas duvido, como São João da Cruz, jogo água benta e peço pra viver na noite escura da fé, que é o cadinho onde se prova, como ouro, o amor dos que aceitam sem ver.

Renato van Wilpe Bach
Enviado por Renato van Wilpe Bach em 09/05/2008
Código do texto: T982802