NÃO DEU OUTRA (No país dos aloprados)

Há poucos dias escrevi neste portal a crônica "O DOSSIÊ DE FHC". O governo, por uma de suas ministras, compareceu a uma das CPI's de tantas quanto têm sido instaladas, cujo nome nem me lembro mais. A CPI não era para apurar a questão da existência ou não do vazamento de um levantamento feito na Casa Civil sobre gastos, com utilização do cartão corporativo, durante o governo FHC.

Mas o assunto acabou sendo abordado, tendo a ministra, mais uma vez, reiterado a não existência de qualquer dossiê. A midia chegou a exaltar o depoimento da senhora Dilma, que se saiu muito bem, tirando partido de uma infeliz colocação inicial de um senador da oposição, do que a depoente se aproveitou para se fortalecer durante o depoimento, levantando bandeiras de patriotismo por sua atuação ao tempo da ditadura.

Praticamente o assunto do dossiê foi encerrado naquela oportunidade. Falou-se até em dar por finalizada a CPI dos cartões corporativos. Eis que, por meio de perícia feita em computadores da Casa Civil, é revelado que havia sim um levantamento de gastos feitos durante o governo de FHC, com ênfase na pessoa da Senhora Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente.

Descobriu-se, também, que esse tal levantamento de dados, com finalidade dirigida, ou seja, um dossiê, porque não, fora enviado por um funcionário do TCU, deslocado para prestar serviços à Casa Civil, desde o tempo do senhor José Dirceu à frente daquele ministério,

a um servidor do gabinete do senador Álvaro Dias, por e-mail.

O remetente do e-mail, segundo informações divulgadas, é simpatizante ou membro do PT. Conforme noticiado, é "petista de carteirinha". Resolvido. Como escrevi na crônica no início citada, a corda iria arrebentar, ao final, nas mãos de um funcionário de escalão inferior. Este funcionário já está nas manchetes impressas e televisivas e já tem a sua imagem conhecida. Não me recordo do seu nome, nem vem ao caso.

Esse fato ressucitou a CPI que agonizava. O funcionário deverá ser chamado a depor, como também o que recebeu o e-mail no gabinete do senador do PSDB.

Mais uma vez a tática, sempre a mesma, foi aplicada. Dão-se os escândalos, que viram assunto para alimentar os noticiários, acusações são feitas, pessoas negam, afirmam que não sabem de nada e, ao final, tudo foi culpa de um aloprado. Sugiro que se invente outra tática, porque essa já está mais do que previsível. Ou então o governo deve dispensar todos os seus auxiliares, contratando outros que não sejam "aloprados".

A nova novela é "O caso Paulinho", apontado como beneficiário em operações de financiamentos pelo BNDES. Foro especial, não fez nada, não sabe de nada, é vítima de alguma perseguição política e estamos conversados. Vamos aguardar os desdobramentos. O governo sindicalista, do "proletariado", está se lambuzando de tanto mel, tal o apetite para tornar seu o que deveria ser em benefício da sociedade brasileira. Só podia dar no que deu. Triste sina. Fazer o quê? As pesquisas mostram que esse governo tem a aprovação da maioria. Qual maioria? Dos que pensam com o estômago, pois não foi dada a eles a oportunidade de aprender a pensar com o cérebro.

Triste sina a dos brasileiros. Nosso atraso em cultura política, na educação, nas condições de sobrevivência, nas oportunidades, dramaticamente nos levam a acreditar que o futuro nos é sombrio. Parece que esse atraso é proposital, pois dele se beneficiam os oportunistas. E como se beneficiam. Vorazmente.

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 10/05/2008
Reeditado em 12/05/2018
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